sábado, 29 de setembro de 2018

CURIOSIDADES DE CAMPINAS: Companhia Mc-Hardy



A Companhia Mc-Hardy foi a segunda indústria de fundição de Campinas. Ela foi fundada pelo industrial Guilherme Mc-Hardy.




Guilherme Mc-Hardy  foi um mecânico escocês procedente de Drumblair, que chegou ao Brasil em 1872 para trabalhar na Companhia Lidgerwood, em Campinas. Em 1875, fundou sua própria empresa, a Companhia Mc-Hardy & Cia., começando a produzir máquinas de beneficiamento de café, ferramentas e utensílios de ferro, e, anos mais tarde, motores e caldeiras.

 
 

Não sem algumas dificuldades, ele conseguiu desenvolver seu negócio e em 1880 pôde ampliar suas instalações. Para tanto ele organizou uma dupla sociedade, constituindo respectivamente a firma Guilherme Mc-Hardy & Cia, tendo como sócio John James Ross e a Mc-Hardy & Cia – Fundição Campineira de Ferro e Bronze – para a qual se associou a Joseph James Sims. John Ross veio direto da Inglaterra a pedido de Mc-Hardy especialmente para ajudá-lo na expansão do estabelecimento; quanto a Sims, este já morava em Campinas, quando se associou a Mc-Hardy. 

Joseph J. Sims cuidou de formar a mão-de-obra que lhe era necessária na fundição, reunindo 54 aprendizes, na maioria brasileiros, que trabalhavam sob sua direção.




A Companhia Mc-Hardy estabeleceu-se inicialmente à Rua Bom Jesus, n˚23, atual Avenida Campos Salles, com a expansão do estabelecimento mudou-se para a Avenida Andrade Neves, n˚1 e 15, onde foi montada uma vasta oficina e uma fundição que ocupavam 8 mil metros quadrados, e não são somados a estes números os terrenos que foram adquiridos visando novas ampliações. Os prédios estavam localizados no quarteirão formado pelas ruas General Osório, Barão de Parnaíba, Bernadino de Campos e Dr. Ricardo.

 
 
 

Já no século XX, um dos prédios foi vendido à Cervejaria Colúmbia, e hoje pertence à Sociedade de Saneamento e Abastecimento de Água S.A – SANASA. Uma das quadras, onde existia o escritório da empresa ficava em frente à estação rodoviária. Este prédio foi vendido para Roque de Marco, depois que a empresa enfrentou problemas financeiros no final do século XIX.

Nos anos 20, a Mc-Hardy comprou mais uma quadra, na Avenida da Saudade, onde hoje é a Escola SENAI.

 
 
 
No dia 09 de outubro de 1883, ocorreu a inauguração das novas e grandes oficinas de fundição dos Srs. Guilherme Mc-Hardy & Cia.

Em outubro de 1886, durante a última visita do Imperador Dom Pedro II à Campinas,  a Mc-Hardy participou da recepção de rua para o casal imperial, formando uma ala composta por 160 dos seus operários. O Clube Musical Mc-Hardy, portando suas bandeiras e seu estandarte, fez-se presente entre as inúmeras bandas e agrupamentos de escolares e operários que também participaram das festividades programadas.

 
 
 

Em 1889, uma triste época em que Campinas foi violentamente atingida por um primeiro surto de febre amarela, Guilerme Mc-Hardy perdeu seus dois sócios e colaboradores, Ross e Sims, que faleceram quando a epidemia se alastrou pela cidade. Mas, Guilherme não desanimou que associando-se a um grupo de personalidades campineiras, tratou de transformar seu estabelecimento comercial e industrial em sociedade anônima.



 

Em 1891, a Guilherme Mc-Hardy passa a denominar-se Companhia Mc-Hardy Manufatureira e Importadora, uma sociedade anônima que tinha como objetivo atuar no que estivesse relacionado  com a fabricação e importação de máquinas, materiais para estrada de ferro, para abastecimento de água e dependência para iluminação, importação em geral e empreitadas, exploração de privilégios, concessões e contratos, fornecimentos para construções civis, navais e hidráulicas, além de adquirir, vender e fundar fábricas, fazer instalações, podendo explorá-las, arrendar ou vendê-las.



 
A nova empresa foi constituída com um capital social de quatro mil contos de réis, dividido em 20 mil ações. A primeira diretoria foi composta pelo fazendeiro Barão de Ataliba Nogueira, pelo industrial Guilherme Mc-Hardy e pelo advogado Gabriel Dias da Silva, todos residentes em Campinas. Em 1893, no lugar do diretor-gerente Guilherme Mc-Hardy, que permanecia na Europa, a princípio a serviço da companhia e em seguida por motivos de saúde, foi nomeado gerente o acionista Roberto Paton. Assinaram o estatuto da companhia, em 1893, Gabriel Dias da Silva, como diretor da companhia, e o Barão de Ataliba Nogueira, como presidente.

 

 
 
É interessante observar que entre os acionistas da Companhia Mc-Hardy Manufatureira  e Importadora, em 1893, aparecem vários empresários, imigrantes, fazendeiros de café e políticos importantes da cidade de Campinas e do Estado de São Paulo. Os maiores acionistas  em 1893 foram: o Banco dos Lavradores com 27,9% do total de ações, Guilherme Mc-Hardy com 25,2%, Gabriel Dias da Silva com 3,2%, Roberto S. Paton, com 2% e o Barão de Ataliba Nogueira com 25 das ações da companhia.

 
 

Em 1883, ela somava de 140 a 145 empregados. No ano de 1900 já eram 320 empregados.

 
 

Em 1894, Guilherme Mc-Hardy voltou à sua terra natal, e faleceu em 1914, aos 84 anos de idade. Seu corpo foi sepultado na cidade de Aberdeen.

A partir de 1913, o Dr. Júlio Gerin, que desde o início do século XX ocupara o cargo de engenheiro gerente da companhia, assumiu a direção, tendo permanecido neste cargo até o início dos anos 40, quando o controle acionário da Mc-Hardy foi adquirido pelo Grupo Irmãos Duarte, de Americana.

Por volta de 1935, as oficinas foram tranferidas para um prédio próprio localizado na Avenida da Saudade, tendo permanecido na Avenida Andrade Neves o setor da empresa destinado a comercialização de produtos.

Até os anos 50 do século XIX, a Companhia Mc-Hardy foi a principal fabricante de equipamentos da cidade de Campinas e já diversificava seus produtos, fabricando furadeiras, serras...No início dos anos 60, a companhia entrou também na construção civil.





Sabe-se que a Companhia Mc-Hardy encerrou suas atividades produtivas em 1975, embora juridicamente  a empresa continuasse existindo.

Por volta de 1983, a Helcosa – Engenharia, Comércio e Indústria de Metais Ltda., situada no Km 99 da Rodovia Anhanguera, incorporou as máquinas da Mc-Hardy ao seu patrimônio.

Naquele ano, a Companhia Mc-Hardy fechou as suas portas definitivamente e deixou em Campinas uma história de sucesso, que sobrevive em suas ruínas vistas, sobretudo, da Avenida Andrade Neves.




Dentre os artigos fabricados pela Companhia Mc-Hardy ao longo de suas atividades pode-se destacar: Máquinas de beneficiar café de todos os sistemas: vapores, locomóveis e fixos; engenhos centrais para a fabricação de açúcar e aguardente; engenhos de serras circulares e verticais; catadores duplos; ventiladores dobrados e singelos; descartadores com graduação por fora; ventiladores de aspiração; ditos para matar formiga; rodas d`água; moinhos de todas as qualidades; bombas hidráulicas simpes e de pressão; moendas para cana; teares comuns e automáticos para algodão, seda e lá, caldeiras, turbinas, ferro fundido, aço, maquinas operatrizes (furadeira FMH-50), motores à vapor, alambiques, etc.]

 
 
 
O destino da produção era o Estado de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e exterior.

 

 

Fonte:







 
ALEXANDRE CAMPANHOLA

domingo, 16 de setembro de 2018

REPORTANDO: Uma torre no Chapadão



Seguem a todo vapor as obras do reservatório



Uma caixa d`água em formato de mirante está sendo construída nas terras doadas pelos loteador e proprietário da antiga Fazenda Chapadão, Sr. Otaviano Alves de Lima. Os moradores da região já se acostumaram com a rotina de trabalho dos operários da firma “Morse e Bierrenbach”, que foi contratada para ser responsável pela execução do projeto. O reservatório de água faz parte do Plano de Melhoramentos Urbanos para a cidade de Campinas elaborado pelo engenheiro-urbanista Francisco Prestes Maia, e a Comissão de Melhoramentos Urbanos foi criada pela Lei n˚490, em 1936, e assinada pelo prefeito João Alves dos Santos para dar vida a projetos como este. Neste ano de 1939, uma torre está sendo erguida na região da Fazenda Chapadão. De acordo com o projeto, o reservatório terá uma altura de 27 metros e capacidade para 250 mil litros de água. O sistema de encanamento será de ferro fundido, e a previsão é que a construção abasteça a zona norte do município, atendendo os moradores de bairros como Guanabara, Botafogo, da Fazenda Chapadão e suas proximdades. O Castelo d`água foi projetado de acordo com uma necessidade apontada pelo DAE (Departamento de Água e Esgotos) que previu este processo de expansão urbana. Foi escolhido o ponto mais alto do Chapadão para o início das obras deste importante reservatório, no lugar onde, anteriomente, Prestes Maia idealizou a construção de um obelisco. Sua inauguração está prevista para o ano de 1940.


 
 
 
 

 

Fontes:






 

ALEXANDRE CAMPANHOLA
 

domingo, 9 de setembro de 2018

GRANDES HOMENS DE CAMPINAS: José Pancetti




Giuseppe Gianinni Pancetti nasceu em Campinas, em 1902, onde viveu até os oito anos, quando seus pais se mudaram para a cidade de São Paulo. Era filho dos imigrantes italianos, Giovanni Battista Pancetti e Corinna Gianinni. Por causa das dificuldades financeiras da família, por decisão do pai, Pancetti voltou para a Itália, e viveu dos 11 aos 16 anos, em terras italianas, primeiramente em companhia do tio Casemiro, negociante de mármore, na região de Toscana. Depois, em Massa-Carrara, onde estudou no Clégio Salesiano, e em Pietra Santa, com os avós, por causa do envolvimento da Itália na Primeira Guerra Mundial.

 
 

Ele teve várias ocupações até ingressar na Marinha Mercante, em 1919. Antes de se tornar marinheiro, Pancetti foi aprendiz de marceneiro, trabalhou em uma fábrica de bicicletas e de material bélico. Como marinheiro, ele viajou por três meses pelo Mar Mediterrâneo.




Em fevereiro de 1920, José Pancetti voltou ao Brasil e passou a exercer diferentes ofícios na cidade de Santos. Ele trabalhou de operário têxtil, auxiliar de ourives, trabalhador na rede de esgotos e faxineiro de hotel.

Em 1921, em São Paulo, Pancetti trabalhou na Oficina Beppe, especializada em decoração de pintura de parede, como cartazista, pintor de parede e auxiliar do pintor Adolfo Fonzari (1880-1959).

Em 1922, no Rio de Janeiro, ele entrou na Marinha de Guerra, onde permaneceu até 1946. Na Marinha, ele ocupa o posto de segundo tenente 

Em 1925, servindo no encouraçado Minas Gerais, ele pintou suas primeiras obras. No ano seguinte, disposto a progredir na carreira, Pancetti integra o quadro de pintores dentro da “Companhia de Praticantes e Especialistas em Convés”.




Em 1933, participou do Núcleo Bernardelli, grupo formado por jovens que lutaram pela reformulação do ensino artístico na Escola de Belas Artes. Ele recebeu orientação de Manoel Santiago (1897-1987), Edson Mota (1910-1981), Rescália (1910-1986), e principalmente pelo artista polonês Bruno Lechowski (1887-1941). Por este, foi orientado em pintura em óleo.

Em 1935, ele casou-se com Anitta Caruso.

Na passagem pelo Núcleo Bernadelli, José Pancetti adquiriu técnica e amadurecimento artístico. Sua obra era composta por paisagens, retratos, auto-retratos, naturezas-mortas, e marinhas. As marinhas são as pinturas mais conhecidas . Incialmente elaboradas de forma analítica, em pinceladas lisas e batidas, e organizadas em planos geométricos, sem ondas, sem vento, tornam-se com o tempo, mais limpas, e, por fim, beiram a abstração, reduzidas à areia, à luz e ao mar.

 
 
 

O retrato torna-se uma constante em sua carreira. Muitas vezes, revelam a sensação de desalento, como ocorre na obra Menina Triste e Doente, de 1940, ou em Retrato de Lourdes. Nos auto-retratos, Pancetti mostrou sua admiração por Vicent Van Gogh (1853-1890) e Paul Gauguin (1848-1903). Representando-se frequentemente como trabalhador manual, ele recorda sua origem humilde.


 
 
Na década de 1940, ele pintou paisagens urbanas com tonalidades que davam um ar de grande melancolia. O Chão, uma obra de 1941 expressa esta ideia urbana melancólica, assim como Pátio da Rua Santana.

 
 

As marinhas foram a face mais conhecida de sua produção. Pancetti reflete nelas sua experiência de marinheiro e o amor pelos diversos recantos do litoral. Itanhaém, Mangaratiba, Cabo Frio e Arraial do Cabo. O artista realizou uma série de quadros de Arraial do Cabo, nos quais o olhar de espectador percorre as humildes casas de pescadores, a areia muito branca  e as canoas coloridas.

 
 
 

Em 1942, Pancetti mudou-se para Campos do Jordão, em busca de tratamento para a tuberculose que o afetava. Neste mesmo ano nasceu sua filha Nilma. Em 1945, ele mudou-se para São Jo]ão Del-Rei, ainda visando ao tratamento de sua saúde.

 
 
 
Em 1945 ocorreu sua primeira exposição individual com mais de 70 quadros.

Em 1941, José Pancetti ganhou o prêmio de viagem à Europa na Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes, e em 1948, recebeu uma medalha de ouro no mesmo salão. Em 1950, participou da Bienal de Veneza, e em 1951 da I Bienal de São Paulo.

Em 1950, ele fixa residência na Bahia. Sua obra de modifica. Ele pintou a cidade de Salvador e arredores nos anos 50: A Praia Itapoã, o Farol da Barra e a Lagoa do Abaeté. Esta última foi representada em muitos quadros, que têm como tema o contraste entre as águas escuras, a areia branca e os tecidos coloridos das lavadeiras. Na obra Farol da Barra, de 1954, Pancetti explora a consistência, a luminosidade e a cor dourada das areias.

 
 

Em 1952, é promovido a primeiro-tenente e nasceu seu filho Luis Carlos.

 

Em quadros do final da carreira, ele aproximou-se da abstração, como em Itapoã, de 1957, no qual a paisagem é concebida por meio de faixas de cores vibrantes e luminosas.

José Pancetti foi o exemplo de artista que iniciou seu trabalho nos conturbados anos 30. Sua obra de retratista carrega algumas das questões tangentes destes tempos, e suas marinhas  e paisagens terrestres atestam o programa nacionalista em voga, independentemente de o artista estar ou não a par destas questões da Modernidade.

 
 

Em Campinas, José Pancetti foi eternizado com o seu nome em uma avenida na Vila Proost de Souza e também no Museu de Arte Contemporânea da cidade.

“Parece que já vivi 500 anos. Esta noite recordei coisas da minha vida. Sentado perto da janela, olhei o mar, vi-me menino em Campinas, depois em São Paulo, Itália, adolescente, adulto, vi tudo, tudo. Sempre sofrimentos, sempre tristeza sem saber o que queria realmente. Depois, torno-me pintor da noite para o dia. Vi então desfilar como num imenso filme, todos os meus trabalhos, todos tristes... O Filme rodou lentamente.”

 
 

José Pancetti faleceu aos 56 anos, no Rio de Janeiro, de câncer de estômago no Hospital Central da Marinha. Foi enterrado no cemitério de São João Batista no bairro Botafogo. O poeta Augusto Frederico Schmidt proferiu uma oração fúnebre na despedida do grande pintor campineiro.

 

 

Fonte:





 

 ALEXANDRE CAMPANHOLA

domingo, 2 de setembro de 2018

MINHA HOMENAGEM À: Conceição





Da sala da humilde casinha, a mocinha ouvia da vitrola a voz encantadora de Cauby Peixoto suspirando docemente o nome "Conceição". Ela abria um sorriso doce também. Sempre apaixonada, ela corria da pia da cozinha, onde areava a louça, quando a querida macaca entrava em campo em sua TV preto e branco. Para que cores? Seu coração era preto e branco. Seus ídolos entravam em campo para sua grande euforia. Estava lá, para sua admiração, o zagueiro Bruninho, aquele que segurava o ataque inimigo. Nada mais importava naquele momento, simplesmente porque o Moisés Lucarelli estava lindo e o único desejo era ver a Ponte Preta de Campinas superar seu adversário. Então, paralisada em frente ao televisor, vinham-lhe os sonhos. Quem sabe um dia entrar naquele estádio, junto com aquela torcida maravilhosa e vibrando a cada lance de sua macaca majestosa. Quem sabe um dia não veria seu time do coração desfilar pelas ruas de Campinas sobre um carro do corpo de bombeiros, passando pela Avenida Francisco Glicério e descendo a Rua Conceição, comemorando mais um título. Eram os sonhos de uma mocinha grandiosa, que perdeu a mãe tão cedo e que nunca conheceu o pai. Que viveu em um orfanato e que um dia teria uma imensa família, a família pontepretana. Eu não sei se foi assim que tudo ocorreu, em um determinado momento da vida de Maria Conceição Rodrigues. Mas, imagino que este amor imenso pela equipe de Campinas, adquirido quando só tinha 12 anos e trabalhava na casa da dona Ivone, no bairro Guanabara, sempre foi assim. E, em virtude desta presença ilustre nas partidas de seu time, certamente a memória pontepretana diz com a mesma emoção de sempre. "Ah! Conceição... eu me lembro muito bem..."



Crônica de Campinas

ALEXANDRE CAMPANHOLA


sábado, 1 de setembro de 2018

UM POUCO DE HISTÓRIA: A Imigração Japonesa em Campinas


 
Caminhando certa vez pela Rua Camargo Paes, no bairro Guanabara, vi-me diante de um pedacinho do Japão em minha cidade. Um pedacinho cheio de história, como outros que há no Brasil, onde a cultura e a tradição japonesa enriquecem a própria cultura nacional, e mostra que o intuito da imigração nada mais é que a busca de uma vida melhor, uma vida feliz, mesmo que seja longe da terra natal.

 
 
 
 
Os primeiros japoneses vieram para o Brasil no navio Kasatu Maru, que atracou em Santos em 18 de junho de 1908. O navio trazia as primeiras 165 famílias japoneses que sonhavam com uma vida melhor. A maioria dos imigrantes fugiam da fome e da falta de oportunidade no Japão, como acontece com outros povos, nos dias atuais, em diversas partes do mundo.
 
 
 
 
Os japoneses foram levados para trabalhar nas lavouras, e muitos não sobreviveram por causa das condições extremas que passaram. Os trabalhadores tinham condições difíceis naquela época, o que reforça a importância das leis que garantem o bem estar e a dignidade daqueles que vendem a força de trabalho para sobreviver. Fatores como clima, comida, os costumes nacioais também dificultaram e muito a adaptação dos japoneses, e tais fatores foram mais assimiláveis pelos europeus. Aqueles imigrantes japoneses que superaram todas estas adversidades, trabalharam muito, sempre com a esperança de um dia voltarem ao Japão. Muitos, porém, fixaram raízes em terras brasileiras.


Família Sannomiya, imigrantes que chegaram na região de Campinas em 1922
 
 
Campinas foi um destino dos imigrantes japoneses também. O primeiro japonês que se estabeleceu nesta cidade foi Takeji Morita, que nasceu em Kagoshima. Ele era marceneiro e trabalhou na expansão da rede ferroviária da Sorocabana e Paulista. Takeji foi inventor e criou várias ferramentas agrícolas, e trabalhou na Fazenda Monte D`Este (Tozan). Ele casou-se com Tamayo Sakamoto, e juntos tiveram Sancho Morita, o primeiro filho de japoneses registrados em Campinas.


A faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) foi implantada graças aos esforços de especialistas na área, como Sancho Morita, que lecionou aulas práticas de tecnologia mecânica com o aval do reitor Zeferino Vaz.

 
Sancho Morita
 
A Fazenda Monte D’Este recebeu este nome da família Iwakasi, em 1927, e posteriormente foi denominada Fazenda Tozan, tornando-se um empreendimento do conglomerado Grupo Mitsubishi. Esta fazenda foi fundada em 1798, por Floriano Camargo Penteado, como o nome de Fazenda Ponte Alta. Tinha como base a cultura da cana-de-açúcar.




A historiadora Maria Katsuko Takahara Kobayashi, escreveu um livro que aborda a formação da comunidade japonesa em terras campineiras. Este livro se chama “A Comunidade Japonesa de Campinas”, e explica como os imigrantes japoneses organizaram-se nesta cidade. A abordagem destaca o surgimento de quatro grupos distintos de imigrantes, de acordo com suas características.
 
 
 

O primeiro grupo veio de Okinawa e chegou ao Brasil no navio Sanuki Maru, em 1918. Os imigrantes deste grupo vieram diretamente para Campinas para trabalharem nas lavouras, sob a liderança de Teimatsu Gusikuda ou Teisho Shirota. Estas duas denominações são devido as formas diferentes de ler o nome escrito em ideogramas japoneses. Eles trabalharam na Fazenda Itaoca, entre Campinas e Indaiatuba, em um total de 56 pessoas.

O segundo grupo estabeleceu-se na Fazenda Monte D’Este, também conhecida como Fazenda Tozan.

 
 

O terceiro grupo de imigrantes eram comerciantes, e veio do interior do Estado para trabalhar em pequenos comércios nesta cidade. Ijiro Aoki foi um deles. Ele é considerado o primeiro empresário japonês de Campinas e foi proprietário da Fábrica de Balas Aoki.

O quarto grupo veio diretamente do Japão como lavradores contratados e japoneses do interior do Estado de São Paulo e região, principalmente na Fazenda Chapadão.

Os bairros Samambaia  e Tapera foram os primeiros a terem núcleos japoneses no ano de 1946. Já em 1954, surgiu a Colônia Macuco, na divisa da cidade de Valinhos. Em 1956, a Colônia Pedra Branca entre o Rio Capivari e a Estrada Velha de Campinas-Indaiatuba. A Colônia Tozan surgiu em 1957.

Ao longo dos anos, as famílias de imigrantes japonesas espalharam-se pelo cidade de Campinas, mas por muito tempo a concentração maior ficou nos bairros Guanabara, Chapadão e Jardim Eulina.




Voltando à Rua Camargo Paes, no Guanabara, é importante destacar a presença do Instituto Cultural Nipo-Brasileiro de Campinas (ICNBC), inaugurado em 1951, que promove eventos e atividades para fortalecer a cultura japonesa. Neste bairro, os postes têm estilo oriental, ao lado da sede do ICNBC fica a Praça das Cereijeiras, e um poco mais adiante, na Praça Hideyo Noguchi, fica o busto do médico que deu nome a praça, e que esteve em Campinas na década de 1920. Hideyo Noguchi foi indicado três vezes para o Prêmio Nobel. Ele fez importantes descobertas sobre a febre amarela e a Sífilis.

 


 


Fontes:





 
 
 
ALEXANDRE CAMPANHOLA
 
 

sábado, 4 de agosto de 2018

CAMPINAS SENTE SAUDADE: Hilda Hilst



Hilda de Almeida Prado Hilst nasceu na cidade paulista de Jaú, em 21 de abril de 1930. Era filha única do fazendeiro, jornalista, poeta e ensaísta Apolônio de Almeida Prado Hilst, e de Bedecilda Vaz Cardoso.

 
 
 

Ainda bem jovem foi morar com a mãe na cidade de Santos, em decorrência da separação dos pais. Seu pai sofria de esquizofrenia e foi internado em um sanatório de Campinas, aos 35 anos, mas passou por outros sanatórios para doentes mentais até o fim da vida.

A jovem Hilda foi para o colégio interno Santa Marcelina, na cidade de São Paulo, no ano de 1937, e estudou por oito anos neste colégio. Nesta época, dizem que Hilda desistiu do projeto de ser santa, uma das primeiras “profissões” que lhe ocorreu abraçar, porque uma das freiras mandou que ela baixasse a cabeça para ouvir um sermão. “Só baixo os olhos diante de Deus”, respondeu Hilda, que desde jovem manifestava sua personalidade forte.

Já em 1945, matriculou-se no curso clássico da escola Mackenzie. Ela morava em um apartamento, em companhia de uma governante de nome Marta.

Em 1948, Hilda ingessou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Ela concluiu o curso de Direito em 1952, mas optou por não exercer a profissão, dedicando-se à Literatura ainda muito jovem. Foi na faculdade de Direito que ela conheceu aquela que seria sua grande amiga, a escritora Lygia Fagundes Telles.

 
 

Em sua primeira publicação, em 1950, aos 20 anos de idade, Hilda apresenta seu lado poético através da obra Presságio. Este livro foi recebido com grande entusiasmo pelos poetas Jorge de Lime e Cecília Meireles.

Posteriormente, seus poemas inspirariam o cantor Adoniran Barbosa e sua beleza encantaria o cantor e ator norte-americano Dean Martin, com o qual namorou, após uma viagem de sete meses para a Europa em 1957. Durante este período, Hilda tentou assediar o ator Marlon Brando, passando-se por jornalista, mas não teve êxito.



 

Em 1965, Hilda Hilst mudou-se para Campinas onde passou a viver na “Casa do Sol”, uma obra planejada pela escritora, próxima à fazenda de sua mãe. Hilda recebia diversos amigos em sua casa, como o escritor Caio Fernando de aAbreu em 1968, o qual viveu lá por algum tempo após ser detido e liberado pelo Dops.

A “Casa do Sol” foi um porto seguro de sua criação. Foi neste recanto que a escritora dedicou-se exclusivamente ao trabalho literário por quase 50 anos, recebendo importantes prêmios literários do Brasil.

 
 

A obra de Hilda caracterizou-se por textos em que a atemporalidade, real e imaginária se fundem, e os personagens mergulham no intenso questionamento dos significados, buscando compreensão e encontro do essencial. Hilda retrata sem cessar a frágil e surpreendente condição humana. Seu trabalho sempre buscou , essencialmente, retratar a difícil relação entre Deus e o homem.

 
 

A “Casa do Sol” localiza-se no condomínio Parque Xangrilá, e hoje é sede do Instituto Hilda Hilst. Em outubro de 2011, a residência foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepac). O espaço está localizado em terras da antiga Fazenda São José que era de sua mãe.

 
 

Em 1968, Hilda casou-se com Dante Casarani, e neste momento escreveu duas peças teatrais, “O Visitante” e “Novo Sistema”.

Em 1970 escreveu o livro “Fluxo Floema”, obra que a introduziu no gênero da ficcção, e em 1982, publicou “Senhora D”, que, mais tarde, foi adaptado para o teatro.

Hilda foi dona de uma imagem de mulher meio “louca, eremita, arredia, indomesticável”, tentou reduzi-la a rótulos, mas tais impressões sobre ela dificultou o acesso à sua obra, e a escritora sempre expressou sua decepção pelo fato de ser uma pessoa da qual as pessoas falavam, mas cujos livros não eram lidos.

 
 
 
Ela não fazia parte de um grupo literário específico, usava uma linguagem própria, bastante difícil. O erotismo marcou boa parte de sua obra, e temas como este não eram esperados que fossem escritos por uma escritora.

Hilda divorciou-se de Dante em 1985, e em 1991, publicou “Bufólicas”, um compilado de poesias satíricas.

Em 1962, recebeu o Prêmio PEN Clube de São Paulo, pelo livro “Sete Cantos do Poeta para o Anjo”.

Em 1969, sua peça “O Verdugo” ganhou o Prêmio Anchieta, um dos mais importantes naquela época.

Em 1981, a Associação Paulista de Críticos de Arte premiou-a pelo conjunto da obra.

Ela ganhou o Prêmio Jabuti em duas oportunidades: Em 1984 com a obra “Cantares de Perda e Predileção” e em 1994, com “Rútilo Nada”.

Em 2002, o Prêmio Moinho Santista foi para ela na categoria poesia.

Hilda Hilst também participou, a partir de 1982, do Programa do Artista Residente, da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP.

 
 
 
Sua obra foi traduzidas para algumas das principais línguas do mundo.

Na madrugada do dia 04 de fevereiro de 2004, aos 73 anos, Hilda Hilst faleceu em Campinas, de falência múltipla de orgãos e sistemas.

 

 

Fonte:






 
ALEXANDRE CAMPANHOLA