sábado, 26 de janeiro de 2013

NA ESCADARIA DA IGREJA



Ao longo do dia uma ou outra alma desiludida ia descansar suas amarguras nos degraus da pequena escadaria da igreja da Nossa Senhora da Conceição. Sentava-se o desempregado, preocupado com seu estado, sua família, e cansado de ouvir lhe dizerem nas agências de emprego: “Boa sorte, senhor!”; sentava-se o mendigo ao sol das dez horas, decidindo com algumas moedas no bolso entre um almoço no “Bom prato” e a cachaça; sentava-se o vigarista a espreitar o povo entrando e saindo do Banco do Brasil que ficava bem ao lado, e forjando suas trapaças; sentava-se, na hora do almoço, a mocinha que era vendedora no Magazine Luiza logo na esquina, de olhos lacrimejantes no movimento consumista da Treze de Maio, e pensando na doença da mãe; sentava-se, mais à tarde, a prostituta velha, que só queria parar e não morrer de fome por isto; sentava-se o homem que foi traído, acumulando coragem para se suicidar na Avenida Francisco Glicério a sua frente.
Sentava-se muita gente nas escadarias da igreja, e suas portas abertas o dia todo apenas o vento cruzava.



Crônicas de Campinas

Alexandre Campanhola





 


 
 

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