Ao longo do dia uma ou outra alma desiludida ia descansar suas amarguras nos degraus da pequena escadaria da igreja da Nossa Senhora da Conceição. Sentava-se o desempregado, preocupado com seu estado, sua famĂlia, e cansado de ouvir lhe dizerem nas agĂŞncias de emprego: “Boa sorte, senhor!”; sentava-se o mendigo ao sol das dez horas, decidindo com algumas moedas no bolso entre um almoço no “Bom prato” e a cachaça; sentava-se o vigarista a espreitar o povo entrando e saindo do Banco do Brasil que ficava bem ao lado, e forjando suas trapaças; sentava-se, na hora do almoço, a mocinha que era vendedora no Magazine Luiza logo na esquina, de olhos lacrimejantes no movimento consumista da Treze de Maio, e pensando na doença da mĂŁe; sentava-se, mais Ă tarde, a prostituta velha, que sĂł queria parar e nĂŁo morrer de fome por isto; sentava-se o homem que foi traĂdo, acumulando coragem para se suicidar na Avenida Francisco GlicĂ©rio a sua frente.
Sentava-se muita gente nas escadarias da igreja, e suas portas abertas o dia todo apenas o vento cruzava.
CrĂ´nicas de Campinas
Alexandre Campanhola
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