domingo, 27 de setembro de 2015

TARDE DE SEMPRE








A tarde rotineira lentamente fechava suas portas no ritmo dos comerciantes citadinos. Derredor ao Terminal Mercado ou mais precisamente na Avenida Benjamin Constant, o trânsito parado lembrava uma orquestra desafinada, cujo regente era o desejo impetuoso de fugir daquela balbúrdia. Lá dentro do terminal, inúmeros trabalhadores aguardavam ansiosos em desordenadas filas à chegada do “coletivo” e pareciam acostumados à sinfonia que a tarde de sempre executava, assim como a embarcarem em ônibus desconfortáveis e superlotados. Conversando sobre o dia de trabalho, ouvindo as músicas prediletas com o fone de ouvido, comendo calmamente o biscoito comprado do vendedor anônimo, cada um inventava sua maneira de apaziguar o cansaço e a angústia de esperar o “circular” sempre atrasado. E, às vezes, ainda restava um pouco de atenção para ouvir a pregação gutural do evangélico em alguma plataforma, a voz insistente daquele homem que vendia água geladinha, a fala sem sentido do “nóia” que não queria falar sozinho. Estes sim gostariam que aquela gente permanecesse por lá.






ALEXANDRE CAMPANHOLA
CRÔNICAS DE CAMPINAS

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