Madrugada boêmia naquele ano de 1985. Amigos conversam no
badalado Bar ilustrada, na Rua Benjamin Constant, bairro Cambuí, naquela
região conhecida como Setor. Na mesa do bar, um dos proprietários Camilo Chagas
e seus amigos não se conformam com a solidão das ruas campineiras justo nas
vésperas do Carnaval. Então, aqueles dez amigos resolvem sair pelas ruas
cantando e dançando, tentando trazer ânimo e vida aquela noite silenciosa.
Quando Camilo olha derredor, mais de 200 pessoas entre boêmios e mendigos os
seguem com o mesmo propósito, animar o Carnaval de Campinas. Surge a partir daí
um bloco carnavalesco, naquela noite “elítica”, um bloco que se tornaria um dos
mais tradicionais de Campinas, cujo nome foi inspirado em bandas famosas, como
a Banda de Ipanema do Rio de Janeiro, surge o Tomá na Banda.
Nascido em 1951, Camilo de Lellis Chagas foi um popular e
querido produtor cultural de Campinas. Lembrado por seu jeito engraçado e muito
espirituoso, dedicou-se a incentivar artistas locais e regionais, dando espaço
a novatos e consagrados. Nas décadas de 80 e 90, ele agitou culturalmente as
noites de Campinas através de um bar, que entrou para a memória da cidade, o
Bar Ilustrada.
“Foi uma época de ouro da boemia campineira. Hoje não tem
mais essa aura boêmia. A música popular perdeu muito com o fim desses bares.”
Noite agitada. Os Muzzarelas se apresentam no palco
daquele bar onde jovens estudantes, boêmios, artistas, intelectuais, e as
demais pessoas prestigiam a vanguarda musical da época, a inovação. Os olhos de
Camilo brilham diante dos novos artistas e de novos fãs. Campineiros prestigiam
o que há de novo no cenário musical, o que há de desconhecido mostrando o seu
valor, sua arte. O Bar Ilustrada, um banho de bar, tem sempre suas portas
abertas para a nova geração, para o que é popular. É também o Tempo do
Underground.
Camilo foi um dos proprietários do Bar Ilustrada, ajudou
a promover inúmeros artistas e realizou projetos importantes, como o Projeto
2h30, Madrugada de Sábado, dedicado às bandas de Rock e o Projeto Clube do
Choro, para quem tocava Choro, Jazz e Blues.
A personalidade inquieta de Camilo permitiu que ele fosse
um homem inovador em suas ideais. Ele foi criador do projeto “Segunda-feira”,
que trouxe grandes nomes da música para Campinas. Camilo teve a ideia, ao
assistir a um show do cantor Arrigo Barnabé em São Paulo, no auge da chamada
Vanguarda Paulistana. Após o show, ele revelou ao artista que pretendia
convidar músicos paulistanos para apresentações em Campinas, no começo da
semana, quando os bares da capital ficam fechados. O projeto tornou-se um
sucesso e o cantor Arrigo Barnabé passou contatos de outros músicos da
Vanguarda. Participaram do projeto nomes como Cida Moreira, Tom Zé, Jards
Macaé, Paulinho Nogueira, entre outros. Sambistas como Nelson Sargento, Aniceto
do Império, Geraldo Filme e Boca Nervosa. Artistas locais como Bons Tempos,
Coral Latex, Ding Dong, Zeza Amaral, Chiquinho do Pandeiro, entre outros.
Os grupos que se apresentavam no palco do Bar Ilustrada
renderam ao bar dois LP’s , o ilustrada volume 1, de MPB, com músicas autorais,
e o volume 2, da fase roqueira.
O Bar Ilustrada fechou as suas portas em 1995, e foi mais
um espaço do saudoso Setor que desaparecia, deixando cada vez mais silenciosas
as noites boemias do centro campineiro.
Camilo foi professor de cursinho e organizador de
eventos.
Camilo Chagas morreu no dia 02 de março de 2015, aos 63
anos. Depois de anos lutando contra uma hepatite C, uma pneumonia e
insuficiência respiratória levou embora este homem, que certamente Campinas
sente saudade, por todas as suas realizações no cenário cultural campineiro.
Fontes:
ALEXANDRE CAMPANHOLA
Camilo, meu inesquecível amigo! Muitos iniciavam a noite no Bar Ilustrada e terminavam na Danceteria Fama, período de 1990 a 1995. Os dois locais saem de cena para sempre!
ResponderExcluirCampinas tributa-lhe honrosas homenagens!
ResponderExcluirCamilo foi demais, meu professor de cursinho favorito. Saudades de seu jeito alegre e tranquilo.
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