Giuseppe Gianinni Pancetti nasceu em Campinas, em 1902, onde
viveu até os oito anos, quando seus pais se mudaram para a cidade de São Paulo.
Era filho dos imigrantes italianos, Giovanni Battista Pancetti e Corinna
Gianinni. Por causa das dificuldades financeiras da família, por decisão do
pai, Pancetti voltou para a Itália, e viveu dos 11 aos 16 anos, em terras
italianas, primeiramente em companhia do tio Casemiro, negociante de mármore,
na região de Toscana. Depois, em Massa-Carrara, onde estudou no Clégio
Salesiano, e em Pietra Santa, com os avós, por causa do envolvimento da Itália
na Primeira Guerra Mundial.
Ele teve várias ocupações até ingressar na Marinha
Mercante, em 1919. Antes de se tornar marinheiro, Pancetti foi aprendiz de
marceneiro, trabalhou em uma fábrica de bicicletas e de material bélico. Como
marinheiro, ele viajou por três meses pelo Mar Mediterrâneo.
Em fevereiro de 1920, José Pancetti voltou ao Brasil e
passou a exercer diferentes ofícios na cidade de Santos. Ele trabalhou de
operário têxtil, auxiliar de ourives, trabalhador na rede de esgotos e
faxineiro de hotel.
Em 1921, em São Paulo, Pancetti trabalhou na Oficina
Beppe, especializada em decoração de pintura de parede, como cartazista, pintor
de parede e auxiliar do pintor Adolfo Fonzari (1880-1959).
Em 1922, no Rio de Janeiro, ele entrou na Marinha de
Guerra, onde permaneceu até 1946. Na Marinha, ele ocupa o posto de segundo
tenente
Em 1925, servindo no encouraçado Minas Gerais, ele pintou
suas primeiras obras. No ano seguinte, disposto a progredir na carreira,
Pancetti integra o quadro de pintores dentro da “Companhia de Praticantes e
Especialistas em Convés”.
Em 1933, participou do Núcleo Bernardelli, grupo formado
por jovens que lutaram pela reformulação do ensino artístico na Escola de Belas
Artes. Ele recebeu orientação de Manoel Santiago (1897-1987), Edson Mota
(1910-1981), Rescália (1910-1986), e principalmente pelo artista polonês Bruno
Lechowski (1887-1941). Por este, foi orientado em pintura em óleo.
Em 1935, ele casou-se com Anitta Caruso.
Na passagem pelo Núcleo Bernadelli, José Pancetti
adquiriu técnica e amadurecimento artístico. Sua obra era composta por
paisagens, retratos, auto-retratos, naturezas-mortas, e marinhas. As marinhas
são as pinturas mais conhecidas . Incialmente elaboradas de forma analítica, em
pinceladas lisas e batidas, e organizadas em planos geométricos, sem ondas, sem
vento, tornam-se com o tempo, mais limpas, e, por fim, beiram a abstração,
reduzidas à areia, à luz e ao mar.
O retrato torna-se uma constante em sua carreira. Muitas
vezes, revelam a sensação de desalento, como ocorre na obra Menina Triste e
Doente, de 1940, ou em Retrato de Lourdes. Nos auto-retratos, Pancetti mostrou
sua admiração por Vicent Van Gogh (1853-1890) e Paul Gauguin (1848-1903).
Representando-se frequentemente como trabalhador manual, ele recorda sua origem
humilde.
Na década de 1940, ele pintou paisagens urbanas com
tonalidades que davam um ar de grande melancolia. O Chão, uma obra de 1941 expressa
esta ideia urbana melancólica, assim como Pátio da Rua Santana.
As marinhas foram a face mais conhecida de sua produção.
Pancetti reflete nelas sua experiência de marinheiro e o amor pelos diversos
recantos do litoral. Itanhaém, Mangaratiba, Cabo Frio e Arraial do Cabo. O
artista realizou uma série de quadros de Arraial do Cabo, nos quais o olhar de
espectador percorre as humildes casas de pescadores, a areia muito branca e as canoas coloridas.
Em 1942, Pancetti mudou-se para Campos do Jordão, em
busca de tratamento para a tuberculose que o afetava. Neste mesmo ano nasceu
sua filha Nilma. Em 1945, ele mudou-se para São Jo]ão Del-Rei, ainda visando ao
tratamento de sua saúde.
Em 1945 ocorreu sua primeira exposição individual com
mais de 70 quadros.
Em 1941, José Pancetti ganhou o prêmio de viagem à Europa
na Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes, e em 1948, recebeu uma
medalha de ouro no mesmo salão. Em 1950, participou da Bienal de Veneza, e em
1951 da I Bienal de São Paulo.
Em 1950, ele fixa residência na Bahia. Sua obra de
modifica. Ele pintou a cidade de Salvador e arredores nos anos 50: A Praia
Itapoã, o Farol da Barra e a Lagoa do Abaeté. Esta última foi representada em
muitos quadros, que têm como tema o contraste entre as águas escuras, a areia
branca e os tecidos coloridos das lavadeiras. Na obra Farol da Barra, de 1954,
Pancetti explora a consistência, a luminosidade e a cor dourada das areias.
Em 1952, é promovido a primeiro-tenente e nasceu seu
filho Luis Carlos.
Em quadros do final da carreira, ele aproximou-se da
abstração, como em Itapoã, de 1957, no qual a paisagem é concebida por meio de
faixas de cores vibrantes e luminosas.
José Pancetti foi o exemplo de artista que iniciou seu
trabalho nos conturbados anos 30. Sua obra de retratista carrega algumas das
questões tangentes destes tempos, e suas marinhas e paisagens terrestres atestam o programa
nacionalista em voga, independentemente de o artista estar ou não a par destas
questões da Modernidade.
Em Campinas, José Pancetti foi eternizado com o seu nome
em uma avenida na Vila Proost de Souza e também no Museu de Arte Contemporânea
da cidade.
“Parece que já vivi 500 anos. Esta noite recordei coisas
da minha vida. Sentado perto da janela, olhei o mar, vi-me menino em Campinas,
depois em São Paulo, Itália, adolescente, adulto, vi tudo, tudo. Sempre
sofrimentos, sempre tristeza sem saber o que queria realmente. Depois, torno-me
pintor da noite para o dia. Vi então desfilar como num imenso filme, todos os
meus trabalhos, todos tristes... O Filme rodou lentamente.”
José Pancetti faleceu aos 56 anos, no Rio de Janeiro, de
câncer de estômago no Hospital Central da Marinha. Foi enterrado no cemitério
de São João Batista no bairro Botafogo. O poeta Augusto Frederico Schmidt
proferiu uma oração fúnebre na despedida do grande pintor campineiro.
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