Caminhando certa vez pela Rua Camargo Paes, no bairro
Guanabara, vi-me diante de um pedacinho do Japão em minha cidade. Um pedacinho
cheio de história, como outros que há no Brasil, onde a cultura e a tradição
japonesa enriquecem a própria cultura nacional, e mostra que o intuito da
imigração nada mais é que a busca de uma vida melhor, uma vida feliz, mesmo que
seja longe da terra natal.
Os primeiros japoneses vieram para o Brasil no navio
Kasatu Maru, que atracou em Santos em 18 de junho de 1908. O navio trazia as
primeiras 165 famílias japoneses que sonhavam com uma vida melhor. A maioria
dos imigrantes fugiam da fome e da falta de oportunidade no Japão, como
acontece com outros povos, nos dias atuais, em diversas partes do mundo.
Os
japoneses foram levados para trabalhar nas lavouras, e muitos não sobreviveram
por causa das condições extremas que passaram. Os trabalhadores tinham
condições difíceis naquela época, o que reforça a importância das leis que
garantem o bem estar e a dignidade daqueles que vendem a força de trabalho para
sobreviver. Fatores como clima, comida, os costumes nacioais também
dificultaram e muito a adaptação dos japoneses, e tais fatores foram mais
assimiláveis pelos europeus. Aqueles imigrantes japoneses que superaram todas
estas adversidades, trabalharam muito, sempre com a esperança de um dia
voltarem ao Japão. Muitos, porém, fixaram raízes em terras brasileiras.
Família Sannomiya, imigrantes que chegaram na região de Campinas em 1922 |
Campinas foi um destino dos imigrantes japoneses também.
O primeiro japonês que se estabeleceu nesta cidade foi Takeji Morita, que
nasceu em Kagoshima. Ele era marceneiro e trabalhou na expansão da rede
ferroviária da Sorocabana e Paulista. Takeji foi inventor e criou várias
ferramentas agrícolas, e trabalhou na Fazenda Monte D`Este (Tozan). Ele
casou-se com Tamayo Sakamoto, e juntos tiveram Sancho Morita, o primeiro filho de
japoneses registrados em Campinas.
A faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP) foi implantada graças aos esforços de
especialistas na área, como Sancho Morita, que lecionou aulas práticas de
tecnologia mecânica com o aval do reitor Zeferino Vaz.
Sancho Morita |
A Fazenda Monte D’Este recebeu este nome da família
Iwakasi, em 1927, e posteriormente foi denominada Fazenda Tozan, tornando-se um
empreendimento do conglomerado Grupo Mitsubishi. Esta fazenda foi fundada em
1798, por Floriano Camargo Penteado, como o nome de Fazenda Ponte Alta. Tinha
como base a cultura da cana-de-açúcar.
A historiadora Maria Katsuko Takahara Kobayashi, escreveu
um livro que aborda a formação da comunidade japonesa em terras campineiras.
Este livro se chama “A Comunidade Japonesa de Campinas”, e explica como os
imigrantes japoneses organizaram-se nesta cidade. A abordagem destaca o
surgimento de quatro grupos distintos de imigrantes, de acordo com suas
características.
O primeiro grupo veio de Okinawa e chegou ao Brasil no
navio Sanuki Maru, em 1918. Os imigrantes deste grupo vieram diretamente para
Campinas para trabalharem nas lavouras, sob a liderança de Teimatsu Gusikuda ou
Teisho Shirota. Estas duas denominações são devido as formas diferentes de ler
o nome escrito em ideogramas japoneses. Eles trabalharam na Fazenda Itaoca,
entre Campinas e Indaiatuba, em um total de 56 pessoas.
O segundo grupo estabeleceu-se na Fazenda Monte D’Este,
também conhecida como Fazenda Tozan.
O terceiro grupo de imigrantes eram comerciantes, e veio
do interior do Estado para trabalhar em pequenos comércios nesta cidade. Ijiro
Aoki foi um deles. Ele é considerado o primeiro empresário japonês de Campinas
e foi proprietário da Fábrica de Balas Aoki.
O quarto grupo veio diretamente do Japão como lavradores
contratados e japoneses do interior do Estado de São Paulo e região,
principalmente na Fazenda Chapadão.
Os bairros Samambaia
e Tapera foram os primeiros a terem núcleos japoneses no ano de 1946. Já
em 1954, surgiu a Colônia Macuco, na divisa da cidade de Valinhos. Em 1956, a
Colônia Pedra Branca entre o Rio Capivari e a Estrada Velha de
Campinas-Indaiatuba. A Colônia Tozan surgiu em 1957.
Ao longo dos anos, as famílias de imigrantes japonesas
espalharam-se pelo cidade de Campinas, mas por muito tempo a concentração maior
ficou nos bairros Guanabara, Chapadão e Jardim Eulina.
Voltando à Rua Camargo Paes, no Guanabara, é importante
destacar a presença do Instituto Cultural Nipo-Brasileiro de
Campinas (ICNBC), inaugurado em 1951, que promove eventos e atividades para
fortalecer a cultura japonesa. Neste bairro, os postes têm estilo oriental, ao
lado da sede do ICNBC fica a Praça das Cereijeiras, e um poco mais adiante, na
Praça Hideyo Noguchi, fica o busto do médico que deu nome a praça, e que esteve
em Campinas na década de 1920. Hideyo Noguchi foi indicado três vezes para o
Prêmio Nobel. Ele fez importantes descobertas sobre a febre amarela e a
Sífilis.
Fontes:
ALEXANDRE CAMPANHOLA
legal
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