sábado, 21 de abril de 2018

CAMPINAS SENTE SAUDADE: Camilo Lellis de Chagas



Madrugada boêmia naquele ano de 1985. Amigos conversam no badalado Bar ilustrada, na Rua Benjamin Constant, bairro Cambuí, naquela região conhecida como Setor. Na mesa do bar, um dos proprietários Camilo Chagas e seus amigos não se conformam com a solidão das ruas campineiras justo nas vésperas do Carnaval. Então, aqueles dez amigos resolvem sair pelas ruas cantando e dançando, tentando trazer ânimo e vida aquela noite silenciosa. Quando Camilo olha derredor, mais de 200 pessoas entre boêmios e mendigos os seguem com o mesmo propósito, animar o Carnaval de Campinas. Surge a partir daí um bloco carnavalesco, naquela noite “elítica”, um bloco que se tornaria um dos mais tradicionais de Campinas, cujo nome foi inspirado em bandas famosas, como a Banda de Ipanema do Rio de Janeiro, surge o Tomá na Banda.




 
 
Nascido em 1951, Camilo de Lellis Chagas foi um popular e querido produtor cultural de Campinas. Lembrado por seu jeito engraçado e muito espirituoso, dedicou-se a incentivar artistas locais e regionais, dando espaço a novatos e consagrados. Nas décadas de 80 e 90, ele agitou culturalmente as noites de Campinas através de um bar, que entrou para a memória da cidade, o Bar Ilustrada.
 
 
 

“Foi uma época de ouro da boemia campineira. Hoje não tem mais essa aura boêmia. A música popular perdeu muito com o fim desses bares.”

Noite agitada. Os Muzzarelas se apresentam no palco daquele bar onde jovens estudantes, boêmios, artistas, intelectuais, e as demais pessoas prestigiam a vanguarda musical da época, a inovação. Os olhos de Camilo brilham diante dos novos artistas e de novos fãs. Campineiros prestigiam o que há de novo no cenário musical, o que há de desconhecido mostrando o seu valor, sua arte. O Bar Ilustrada, um banho de bar, tem sempre suas portas abertas para a nova geração, para o que é popular. É também o Tempo do Underground.
 
 
 
 
Camilo foi um dos proprietários do Bar Ilustrada, ajudou a promover inúmeros artistas e realizou projetos importantes, como o Projeto 2h30, Madrugada de Sábado, dedicado às bandas de Rock e o Projeto Clube do Choro, para quem tocava Choro, Jazz e Blues.




A personalidade inquieta de Camilo permitiu que ele fosse um homem inovador em suas ideais. Ele foi criador do projeto “Segunda-feira”, que trouxe grandes nomes da música para Campinas. Camilo teve a ideia, ao assistir a um show do cantor Arrigo Barnabé em São Paulo, no auge da chamada Vanguarda Paulistana. Após o show, ele revelou ao artista que pretendia convidar músicos paulistanos para apresentações em Campinas, no começo da semana, quando os bares da capital ficam fechados. O projeto tornou-se um sucesso e o cantor Arrigo Barnabé passou contatos de outros músicos da Vanguarda. Participaram do projeto nomes como Cida Moreira, Tom Zé, Jards Macaé, Paulinho Nogueira, entre outros. Sambistas como Nelson Sargento, Aniceto do Império, Geraldo Filme e Boca Nervosa. Artistas locais como Bons Tempos, Coral Latex, Ding Dong, Zeza Amaral, Chiquinho do Pandeiro, entre outros.




Os grupos que se apresentavam no palco do Bar Ilustrada renderam ao bar dois LP’s , o ilustrada volume 1, de MPB, com músicas autorais, e o volume 2, da fase roqueira.

O Bar Ilustrada fechou as suas portas em 1995, e foi mais um espaço do saudoso Setor que desaparecia, deixando cada vez mais silenciosas as noites boemias do centro campineiro.

Camilo foi professor de cursinho e organizador de eventos.

Camilo Chagas morreu no dia 02 de março de 2015, aos 63 anos. Depois de anos lutando contra uma hepatite C, uma pneumonia e insuficiência respiratória levou embora este homem, que certamente Campinas sente saudade, por todas as suas realizações no cenário cultural campineiro.

 


Fontes:

 

 

 

ALEXANDRE CAMPANHOLA
 

sábado, 14 de abril de 2018

CAMPINAS SENTE SAUDADE: Bozó e Dito Colarinho


 
BOZÓ

No dia 24 de setembro de 2017, morreu uma figura conhecida da cidade campineira e da torcida do Guarani, Bozó.

 
 
 
José Carlos Roque de Oliveira, era filho de um sambista de grande prestígio em Campinas, Juquinha, que nas décadas de 1970 e 1980 foi presidente da Escola Carnavalesca Império do Samba, que ensaiava na Rua José de Alencar, por cima do Viaduto Cury.

Bozó desfilava sua simpatia pelas ruas do centro de Campinas. Sempre vestido com a camisa de seu time de coração, o Guarani, ele era um fanático torcedor, que defendia com garra seu time preferido. Encontrava-se constantemente na Rua Treze de Maio, onde perambulava pelo comércio.




Bozó gostava de frequentar os bares do centro da cidade, e falar sobre o time que tanto amava. Apelidaram-no de “Bozó” porque era parecido com o personagem criado por Chico Anysio, no programa Chico City. Era um homem simpático e divertido, muito querido, mesmo pelos torcedores do rival do Guarani, a Ponte Preta.

 
 

 
Um infarto fulminante em sua casa, na Vila Manoel de Nóbrega, foi a causa do passamento deste tipo popular e torcedor folclórico do Guarani de Campinas.

 

DITO COLARINHO

Dito Colarinho desfilava sua elegência pelas ruas da cidade campineira. Trabalhava como carroceiro. Atendia a todos com muito respeito e alegria, pois estava sempre brincando e sorrindo. Encontrava-se no ponto da estação, sempre à espera de encomendas para carretos. As bagagens trazidas da capital pelos trens, eram distribuídas pelo Dito Carroceiro pelas lojas de varejo da Treze de Maio, e pelas de atacado da Costa Aguiar.


 
 
O orgulho deste querido carreteiro era possuir um boné de maquinista da Companhia Paulista. Certamente, recordando o tempo quando a profissão de maquinista era uma das mais respeitadas. Era reconhecido pela camisa de linho impecável e pela gravata borboleta que usava, estilo que lhe rendeu o apelido de Dito Colarinho.

O nome de Dito Colarinho era Benedito Vasconcelos Siqueira. Ele morou na Rua Culto à Ciência, na residência de número 59. Era um homem simpático e popular, tanto que, por ocasião da morte de seu cavalo, as pessoas reuniram-se para comprar-lhe outro cavalo, e assim poderia continuar sua atividade.


 
 
Dito Colarinho gostava muito de uma cachaça e parava nos bares para tomar umas e outras. Dizem que o cavalo que puxava a carroça estava tão acostumado a este hábito do Dito, que, quando o carroceiro não parava, o cavalo parava por conta própria e, enquanto o Dito não descia, mesmo que não fosse por causa da cachaça, o cavalo não seguia adiante.

No dia 20 de fevereiro de 1967, a estação da Companhia Paulista já não tinha aquela figura tão constante e querida, aquele homem sempre engravatado, que tinha uma elegância única. Morreu neste dia Dito Colarinho.

 



Fontes:






 

 
ALEXANDRE CAMPANHOLA