domingo, 27 de outubro de 2013

A COMPANHIA MOGIANA DE ESTRADAS DE FERRO - Parte 4

 

 

TRANSFORMAÇÕES NO TERRITÓRIO CAMPINEIRO

 
 
 
No ano de 1878, a Mogiana ainda mostra-se deficiente de um aparato de oficinas mais complexas, pois conta com as oficinas da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, que prestou muitos serviços à Mogiana na época de sua inauguração. Investimentos são feitos neste sentido, assim como na ampliação de seu traçado refletido por sua audaciosa expansão.
O traçado da estrada de ferro da Companhia Mogiana é moldado seguindo os interesses mais imediatos de ampliação de cultivo e transporte de café, sempre favorecendo os ricos fazendeiros. A escolha do traçado da linha férrea é determinada pela oferta do café, levando em conta as grandes propriedades da região. A valorização das propriedades por onde passam as linhas da Mogiana é evidente.
O transporte de mercadorias constitui a base da receita da companhia; o transporte de passageiros não tem papel tão significativo.
 
 
 
 
O surgimento da Companhia Mogiana propicia a criação de uma teia de troncos e ramais que vão atrás do café, e por vezes à sua frente, constituindo verdadeiras estradas cata-café. O ramal ligando Campinas-Jaguariúna com as estações – Anhumas, Tanquinho, Desembargador Furtado e Carlos Gomes – é projetado próximo às fazendas locais. A criação das estradas ferroviárias auxiliam na libertação da mão-de-obra escrava presente no sistema latifundiário e serve de incentivo à  migração interna, aquecendo ainda mais a transformação econômica do modo de produção capitalista.
 
 

 
 
 


 
 
 
 
 IMAGEM: Estação Tanquinho 1910, Desembargador Furtado 2007, Carlos Gomes 1910 e Anhumas 1910.
 
 
 
A expansão ferroviária também influência mudanças na área urbana. Surgem bairros proletários como a Vila industrial, o primeiro bairro de trabalhadores da cidade de Campinas. Prédios de imigração entra as atuais ruas Sales de Oliveira e Pereira Lima são instalados. Com a ascensão da Companhia também surge na cidade o telégrafo, o serviço postal, a iluminação pública a gás, o sistema de bondes com tração animal. Neste período também são realizadas obras de infraestrutura para fazer chegar água encanada em alguns chafarizes e ocorre a expansão da atividade comercial.
 


 
 
 
Em 1878, a Mogiana estabelece sua primeira sede em um prédio alugado na esquina da Rua General Osório com a Avenida Anchieta.
Quando a Mogiana chega à cidade de Casa Branca ela possui 173 quilômetros em sua extensão, que representam a força de seu crescimento.
 
 
 
 
Na próxima publicação:
 
A Companhia Mogiana na direção do futuro
 
 
 
 
 FONTES:
 
 

domingo, 20 de outubro de 2013

A COMPANHIA MOGIANA DE ESTRADAS DE FERRO - Parte 3


A VISITA DO IMPERADOR DOM PEDRO II






Após 30 anos de sua primeira visita ao território campineiro, o imperador Dom Pedro II retorna à Campinas, em 26 de agosto de 1875, e encontra uma cidade diferente, não mais com o estilo colonial de outrora, mas agora uma cidade moderna, estruturada pela cultura do café.

Dom Pedro II e outros visitantes são recebidos pelos membros da Câmara Municipal e demais autoridades na estação da estrada de ferro da Companhia Mogiana, e uma banda de música executa o Hino Nacional. Milhares de foguetes sobem ao ar, os enfeites nas ruas representam a importância deste momento, apesar da notícia do falecimento de José Bonifácio, o “Patriarca da Independência”.


IMAGEM: Dom Pedro II







A comissão que preparou o programa de recepção ao imperador é composta pelo Barão de Itapura, pelo deputado comendador Geraldo de Resende, o Dr. José Joaquim Baeta Neves, por Gabriel Dias da Silva e Joaquim Quirino dos Santos.








IMAGEM: Joaquim Polycarpo Aranha, o Barão de Itapura









A comitiva imperial desfila pela rua, entre alas constituídas pela Banda de música italiana, Sociedade 14 de Juillet, Hespanhola Mendaz Nunes, Alemã Concórdia, Beneficente Lidgerwood, Oito de Julho, Clube Mac-Hardy  com seu estandarte e os operários da indústria com  bandeiras, Confederação Italiana com sua escola, Beneficente Arens, Banda Camões, Germania, Portuguesa de Beneficência, Escola Corrêa de Mello, Circolo Italiano Unit e suas escolas, alunos do Asilo de Órfãs da Santa Casa, Colégio Culto à Ciência, colégios da Dona Carolina Florence, Josefina Sarmento, Deolinda Fagundes e Rita Freire, entre outros, estimando um número de 800 escolares presentes. Estimam-se o número de 160 operários da indústria Mac-Hardy, 180 da Lidgerwood e 100 da Arens, as três grandes indústrias de Campinas. Quatro cavalos brancos puxam a carruagem que passa em frente ao palacete, onde o imperador está hospedado, levando seus seguidores. Dom Pedro II assisti a tudo do palacete, o sobrado Visconde de Indaiatuba, situado na esquina daquelas que seriam as ruas Barão de Jaguara e General Osório.









IMAGENS: Pintura representando a chegada do imperador Dom Pedro II, o sobrado do Visconde de Indaiatuba e a Dona Carolina Florence e seus filhos.





O imperador visita a Matriz Nova, chegando a subir na torre, e ouve o órgão tocado pelo Sr. Antônio Carlos de Sampaio Peixoto. Visita o Bosque dos Jequitibás, regressando pelo bairro Santa Cruz. Mais tarde, participa de um jantar suntuoso oferecido pelo Conde de Três Rios e um solene Te Deum na matriz.









As visitas de Dom Pedro II sucedem-se no dia seguinte. Ele visita as indústrias Arens Irmãos, Lidgerwood, sendo recebido pelo chefe João Sheringhton e pelos operários e aprendizes. Visita a Companhia Mac-Hardy, do Sr. Guilherme MacHardy e o clube da indústria. Visita também a indústria de Sabão, Óleos e Velas de Octávio Pacheco & de Francisco Krug e a Fundição da Viúva Faber e Filhos. Também visita hospitais como Circolo Italiano Unit e a Santa Casa de Misericórdia.





IMAGEM: Companhia Lidgerwood, 2013




Ainda em decorrência da inauguração do trecho Campinas / Mogi-Mirm da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, Dom Pedro II parte de Campinas em visita à cidade de Mogi-Mirim, no dia 27 de agosto do mesmo ano. O trem parte de Campinas às 12 horas levando o imperador, o presidente da província e convidados.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na próxima publicação:
 
As transformações do território campineiro com o crescimento da Companhia Mogiana
 



 FONTES:

 

domingo, 13 de outubro de 2013

A COMPANHIA MOGIANA DE ESTRADAS DE FERRO - Parte 2



A FUNDAÇÃO DA COMPANHIA MOGIANA





A Companhia Paulista de Estradas de Ferro é a principal via de escoamento do café no interior paulista, em 1872. Esta companhia surgiu durante a administração de Saldanha Marinho na Província de São Paulo, que assegurou que ricos fazendeiros fundassem-na em 30 de janeiro de 1868, sob a presidência de Clemente Falcão de Sousa Filho. Antes do surgimento das ferrovias, o café era escoado por tropas de mulas.
 
 
 
 
 
 
IMAGEM: Clemente Falcão de Sousa Filho






A Companhia Paulista se estendeu por diversas áreas do interior,  em trechos como Campinas-Jundiaí, chegando a Descalvado e pretendendo prolongar-se até Rio Claro. Porém, seus administradores não aceitaram a imposição de fazendeiros influentes que desejavam que sua extensão passasse por Morro Pelado. Por critérios políticos, a companhia ficou impedida de estender suas linhas até Ribeirão Preto, limitando sua prolongação até Descalvado.

Com o recuo do crescimento da Companhia Paulista de Estrada de Ferro surge uma carência de via de transporte do café entre a região campineira, a de Mogi-Mirim e a de amparo. Os ricos barões da região campineira discutem esta necessidade de prolongamento, a ausência de caminhos de escoamento que se estenda até Ribeirão Preto, outra importante área produtora de café.
 
 

 
 
 
 

O dia 21 de março é decisivo para o plano destes barões, que desejam criar uma via férrea permitindo a circulação do café na região de Campinas. Decididos em investir seus capitais na fundação de uma companhia que construa estradas de ferro que atenda seus interesses, homens como Antônio de Queiróz Telles, Barão, Visconde e Conde de Parnaíba, Antônio e Martinho da Silva Prado, importantes fazendeiros da família Silva Prado, José Manuel da Silva, o Barão do Tietê e José Estanislau do Amaral, o Barão de Indaiatuba, outro importante fazendeiro de café, veem a concessão para a construção de uma ferrovia ser possibilitada pela instauração da lei provincial número 18, que permite o prolongamento da linha até às margens do Rio Grande, passando por Casa Branca e Franca. São garantidos juros de 7% sobre o capital investido e o privilégio sem garantia de juros para o prolongamento da linha. Neste dia é fundada a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro constituída com o capital de 3.000 contos de réis, divididos em 15.000 ações no valor nominal de 200 contos de réis.



IMAGENS: à esquerda, Antônio de Queiróz Telles (Conde do Parnaíba), à direita, Martinho da Silva Prado.







Com a concessão garantida, os ricos barões resolvem investir na companhia, visando os lucros que o empreendimento pode oferecer. No dia 30 de março, o tenente coronel José Guedes de Sousa reúne em sua residência pessoas de elevado conceito social com a finalidade de atrair investidores para o empreendimento da Mogiana. Desta comissão fazem parte: o coronel Joaquim Egydio de Sousa Aranha, o capitão Joaquim Quirino dos Santos, João Ataliba Nogueira, Delfino Cintra Júnior, Joaquim Ferreira de Camargo Andrade e Francisco Soares de Abreu. Além destes já citados, também aplicam seu dinheiro na companhia Antônio Pinheiro de Ulhoa Cintra (Barão de Jaguara), João Quirino dos Santos, Antônio Manoel Proença, Antônio Carlos de Moraes Salles, Manuel Carlos Aranha (Barão de Anhumas), entre outros.
 
 
 
 
 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
IMAGENS: à esquerda, Joaquim Egydio de Sousa Aranha, à direita, Manuel Carlos Aranha (Barão de Anhumas)
 
 
 
 
 
No dia 01 de julho, os acionistas da nova companhia se reúnem em Assembleia Geral no paço da Câmara Municipal de Campinas, discutem e aprovam o projeto e seus estatutos, assim como a eleição da diretoria provisória que deverá gerir os negócios da empresa até a sua consolidação. A primeira diretoria é constituída provisoriamente por Antônio de Queiroz Telles, Tenente Coronel Egydio de Sousa Aranha, Antônio Pinheiro de Ulhoa Cintra, o capitão Joaquim Quirino dos Santos e Antônio Manoel de Proença. O engenheiro Joaquim Miguel Ribeiro Lisboa é o encarregado do projeto e da construção da Mogiana.
 
 

 
 
IMAGEM: Engenheiro Joaquim Miguel Ribeiro Lisboa
 
 
 
No dia 19 de julho de 1873, é firmado o contrato com o Governo provincial, e no dia 28 de agosto, é iniciada a construção da estrada de ferro. A companhia começa a encomendar trilhos e acessórios da Europa, e adquire locomotivas, vagões e carros de passageiros dos EUA. Utilizando-se dos serviços da Companhia Paulista, a Mogiana monta suas primeiras locomotivas. Também monta uma oficina apenas para simples reparos.

A Companhia Mogiana também contrata o operário da empresa norte-americano Jackson
Scharp Company para realizar a montagem dos carros de passageiros e vagões e um segundo operário com a incumbência de montar outras locomotivas que a empresa adquire. Outro estrangeiro também é contratado para exercer um cargo de chefia. Edward Svinerd é contratado para comandar as oficinas








 A construção do primeiro trecho que liga Campinas à Jaguariúna é concluída em 03 de maio de 1875, numa distância de 34 quilômetros. A locomotiva Jaguari leva 5 carros de passageiros às 11h e 45min neste dia. Três meses depois, a estrada se estende até a cidade de Mogi-Mirim e totaliza 41 quilômetros. Dom Pedro II é esperado em Campinas para a inauguração deste trecho.

 

 



 
Na próxima publicação:
 
A visita do imperador Dom Pedro II à inauguração do trecho Campinas-Mogi-Mirim da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro

 
 
 
 
FONTES:
 




domingo, 6 de outubro de 2013

A COMPANHIA MOGIANA DE ESTRADAS DE FERRO - Parte 1


A partir de hoje, publicarei uma série de cinco textos que narraram a história da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro no território campineiro. Não se trata de um trabalho acadêmico e com profunda pesquisa, mas uma elaboração dedicada a resgatar as principais etapas da ascensão desta empresa ferroviária, sua importância para a economia da época e para o crescimento da cidade de Campinas. Ressalto que todas as informações contidas neste trabalho foram obtidas de diversos textos presentes na Internet, sempre averiguados minuciosamente para que a verdade dos fatos seja evidente nesta narração.
Espero com este trabalho, coloborar para apresentar àqueles que se interessam pela história campineira os principais acontecimentos que marcaram a existência desta companhia.



A PRODUÇÃO CAFEEIRA EM CAMPINAS

 
 
 
No solo fecundo constituído de terra roxa, na Campinas de 1872, o café exerce sua soberania como principal alicerce da economia do município, sendo no país, o ouro negro tão apreciado.
Campinas é o município mais rico e fecundo da província de São Paulo. Sua maior riqueza, o café, floresceu no município de Jundiaí, no século XVIII, quando Campinas fazia parte deste município, e foi cultivado pelo sargento-mor Raymundo Álvares dos Santos Prado no quintal de sua casa. Acredita-se que a maior parte das sementes e mudas que constituem os cafezeiros de Campinas, foram provenientes da plantação deste sargento-mor.
 
 
Antônio Francisco de Andrade foi o primeiro, em sua chácara, a fazer uma pequena plantação de cafezeiros em 1807 ou 1809. Ele residia na Rua do Rosário, atual Avenida Francisco Glicério, esquina da Barreto Leme. Era em frente a sua casa que o café era estendido durante sua concepção para depois ser socado em pilões.
 
A ideia de uma atividade comercial do café teve início por influência de Francisco de Paula Camargo que, durante uma visita ao Rio de Janeiro, por ocasião dos festejos realizados por causa do casamento de Dom Pedro, que mais tarde se tornaria imperador do Brasil, viu o vantajoso comércio do café, e de volta à Campinas, resolveu plantar para vender o produto. Contudo, ele fracassou por desconhecer a técnica de cultivo do café.
 
 
 
 
Foi nas mãos de Francisco Egydio de Souza Aranha, pai de Joaquim Policarpo Aranha, o Barão de Itapura, com seu instinto empreendedor, que o café obteve o êxito esperado no cultivo e na comercialização.
 
 
 
 
Imagem: Francisco Egydio de Souza Aranha
 
 
 
 
 
 
 
 

 
Após este êxito, a cultura do café expandiu-se em Campinas nas mãos de homens como o patriota cirurgião-mor Álvares Machado, que cultivou o café em suas instâncias, José de Souza Campos e Bernardo José de Sampaio, em 1835 aproximadamente, os quais tiraram excelentes resultados com o produto, estimulando outros produtores a abandonar a cultura de cana-de-açúcar, e dedicarem-se ao produto que possibilitou o florescimento do município campineiro.
 
 
Imagem: Francisco Álvares Machado
 
 
 
 
 
 
 
A sociedade campineira de 1872 é formada por elementos concentrados no centro rural, onde atuam nas fazendas de café e na crescente área urbana, muitos trabalhando nas indústrias que chegam à cidade. Campinas conta com mais de 13 mil habitantes.  As famílias aristocráticas constituem a classe de maior status, apresentando em seu padrão de vida elevado a condição de desfrutar de uma educação e cultura de primeiro nível. Esta classe frequenta colégios como o Culto à Ciência, leem livros de consagrados autores estrangeiros, frequentam importantes Teatros como o São Carlos, onde Carlos Gomes se apresenta, além de estarem presentes em inúmeras sociedades recreativas e culturais.
 


 
 
 
 
Imagem: Teatro São Carlos
 
 
 
 
Fazendas como a Santa Genebra e indústrias como a Lidgerwood Manufacturing representam o crescimento econômico campineiro e importantes barões do café destacam-se na cidade neste ano de 1872 como Joaquim Policarpo Aranha, o Barão de Itapura, proprietário da Fazenda Chapadão, seu irmão Manuel Carlos Aranha, o Barão de Anhumas, proprietário da Fazenda Anhumas, o Barão Geraldo de Rezende, proprietário da Fazenda Santa Genebra, Joaquim Antônio de Arruda, o Barão de Atibaia, João de Ataliba Nogueira, o Barão de Ataliba Nogueira, Antônio Pinheiro de Ulhoa, o Barão de Jaguara, Antônio de Queirós Teles, entre outros.
 
 
 
 
 



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Imagens:  Geraldo Ribeiro de Souza de Rezende (Barão Geraldo), a esquerda, e João Ataliba Nogueira (Barão de Ataliba Nogueira), a direita.
 
 
 
 

Outras personalides de destaque na política, no comércio e nas atividades intelectuais nesta sociedade campineira são: Joaquim Quirino dos Santos, Bento Quirino dos Santos, Francisco Quirino dos Santos, Antônio de Moraes Salles, Francisco Glicério de Cerqueira Leite, Américo Brasiliense, Jorge Miranda, José Paulino Nogueira, entre outros.
 

 
 
 
 
Imagem: Francisco Quirino dos Santos
 
 
 
 
 
Na proxima publicação:
A decisão de fundar a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro
A construção dos primeiros trechos da ferrovia
 
 
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