domingo, 16 de novembro de 2014

MORAR NO BOTAFOGO - Crônica de Campinas





 

Já riram várias vezes de mim, quando revelei que um dos grandes sonhos de minha vida é morar no bairro Botafogo. Disseram-me que é um bairro de gente velha, um lugar morto, onde só se encontram marginais, bêbados, travestis, mendigos, prostitutas pelas ruas. Que os prédios estão em ruínas, desvalorizados. Que só iria encontrar idosos cochilando pelas praças, a monotonia do cotidiano dos comerciantes, das pessoas que parecem eternas em suas vidas sem graça. Mas, não me importei com as injúrias ao querido bairro. Eu, que sempre morei no subúrbio, acostumado à violência dos insensatos e à miséria dos infortunados; aos excessivos escândalos repentinos, ao medo de não mais existir por acaso e de respirar os ares problemáticos dos confins campineiros, nada me surpreenderia com os o território botafoguense, com a mesmice criticada, com o suposto aroma de ruína. Viveria contente entre os idosos e os boêmios; entre a juventude transeunte da Rua Culto à Ciência, sentindo-me ainda pobre diante dos ricos da Vila Itapura e do Guanabara, mas, simplesmente feliz, tomando uma cerveja no Furlan à tarde.

 



Crônicas de Campinas

Alexandre Campanhola

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