domingo, 5 de abril de 2015

O SENHOR ALVINO - Crônica de Campinas




Outro dia, quando voltava do salão do senhor Jair, onde corto meu cabelo, fiquei pensando em toda sua simpatia e boa conversa, pois como todo cabeleireiro, ele também é cheio de assunto e sempre tem algo interessante para falar. Assim como aquele senhorzinho que cortava meu cabelo na infância, quando levado pelo meu avô ao seu salão, que ficava dentro de sua casa, eu ouvia atentamente as diversas histórias que ele contava aos seus clientes, dentre eles meu avô, enquanto trabalhava. Minha família já não morava mais no bairro Jardim Eulina, em Campinas, mas meu avô fazia questão de cortar o cabelo no salão do senhor Alvino e levava-me junto. Lembro-me bem que para chegar ao seu salão, atravessávamos a sala de sua casa, onde quase sempre uma criança estava assistindo à televisão. Seu salão era pequeno; era uma extensão da sala. Alguns quadros antigos enfeitavam a parede. A mobília onde ficava o espelho também tinha uma aparência envelhecida, assim como seus instrumentos de trabalho e tudo que se via derredor. Só para ter uma ideia, a maquininha de cortar o cabelo era manual. Às vezes, sentíamos o aromático cheiro de comida que vinha da cozinha da casa, decerto a mulher do senhor Alvino cozinhando. Ele era um idoso baixinho e magro. Tinha uma voz frágil devido à idade avançada e usava óculos. Era muito bom de prosa. Contava incríveis histórias sobre a política brasileira atual e do passado, com grande domínio e conhecimento. Aos meus nove anos de idade, começava a conhecer o cenário político nacional através dos relatos e das opiniões daquele cabeleireiro à moda antiga, habilidoso na tesoura e simples como todo bom homem.



ALEXANDRE CAMPANHOLA

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