sábado, 10 de novembro de 2012

UM POEMA DO DOUTOR QUIRINO




 Quem mora em Campinas certamente já passou pela Rua Doutor Quirino alguma vez, pois ela está presente no centro de Campinas e possui vários estabelecimentos comerciais.






O Doutor Quirino se chamava Francisco Quirino dos Santos e era irmão da célebre personalidade política de Campinas, Bento Quirino dos Santos.

Nascido em Campinas, em 1841, o Doutor Quirino exerceu advocacia, foi promotor público, deputado provincial, membro da Sociedade de Geografia de Lisboa e sócio de quase todas as instituições culturais de São Paulo.




 


Ele foi o fundador da Gazeta de Campinas, importante jornal da época.


E o Doutor Quirino também foi poeta muito elogiado pela Imprensa Fluminense e Portuguesa. Escreveu alguns livros e o prefácio do livro "Vozes da América" do importante poeta romântico brasileiro Fagundes Varela.

O livro mais conhecido do Doutor Quirino foi "Estrellas Errantes", do qual foi extraído este poema para deleite dos amantes de poesias e apreciadores dos escritores campineiros:








QUIEN AMA NO VIVE

 
Quando em teus olhos scintilla,

Por entre a negra pupilla,

Essa luz vivida e pura

Que nos meus se vem cravar,

Não sentes um vago, incerto

Palpitar pela ventura

Que tanto mais desparece

Quanto mais nos vemos perto?

Oh! n'esse eterno aspirar

Das sombras ao eterno gozo,

Não vês que vae-se o repouso,

Que toda a vida estremece?

Quando estás longe de mim,

N'essa saudade infinita

Que os seios dilata, agita

N'um sonho meigo sem fim,

Quando tudo se illumina

De um raio vital na terra ;

Quando o sol no adeus se inclina,

Ligando no mesmo abraço

As nuvensinhas doiradas

E as penedias da serra ;

Lançando a vista no espaço,

No azul que separa o monte

D'entre as brumas do horizonte

Fitando o mórbido olhar,

Buscando ancioso o explendo

Que se morre alem do mar,

Por ter avistado a imagem

De alguma etherea visão

No quasi extincto fulgor, —

Mas que esvae-se na passagem

Do importuno turbilhão;

Não julgas sentir a vida

Exhausta quasi, perdida,

No desvairado debate

D'esse luctar da razão,

Contra a matéria que abate

O amor ao limbo da treva

E o espirito que o eleva

Ao ideal do prazer ?.

Pois isto assim é viver ?!



Maio de 1863.


Foi preservada a ortografia original deste poema.

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