O cartaz em frente ao cinema anunciava “Nunca houve uma mulher como Gilda”. Era o lançamento do filme Gilda, uma produção estadunidense de 1946 estrelada pela atriz Rita Hayworth, que em 1947 chegava a Campinas para apresentar ao público a história de uma mulher lendária, que segundo diziam, só precisava tirar uma das luvas para parecer que fazia um strep tease completo. Gilda, o papel dramático interpretado por Rita Hayworth que tanto impressionou os críticos de cinema de época, também impressionou uma mulher simples que vivia em Campinas, Geovina Ramos de Oliveira, que foi assistir à película e saiu do cinema se sentindo a própria Gilda.
Gilda não gostava de revelar suas origens, nem quem eram
seus parentes. Sempre dizia “O Mundo é Meu”, quando tentavam descobrir algo a
respeito de sua vida. “Sou daqui mesmo, porque gosto daqui”, respondia às
pessoas. Sequer a idade revelava. Mas, revelou ser nordestina. Segundo relatos
tinha família na cidade de Santos. Era uma mulher que foi casada e teve três
filhos. Seu marido trabalhava em uma banca de jornal.
Andava pelo centro de Campinas usando faixas de miss e
rainha, sempre sozinha. Vestia peças coloridas, usava batom vermelho nos
lábios, chapéus e até estolas de pele. Matava a fome e a sede pelos bares. Poderia
estar no Bar Voga saboreando um delicioso pastel, ou tomando um suco de frutas
na Casa de Vitaminas mais adiante. Exibia como ninguém uma imensa alegria de
viver, desfilando como uma verdadeira estrela nas ruas do centro, seu palco
iluminado. Gostava de dançar em frente às enormes caixas de som da Livraria
Brasil, na Rua Barão de Jaguara.
Registro fotográfico de autoria de Gilberto de Biasi |
Segundo relatos, aos domingos à noite ela sempre
desfilava pelo Jardim Carlos Gomes, quando a banda tocava no Coreto. Dizem que
era uma mulher patriota, gostava de cantar o Hino Nacional quando estava
enrolada na bandeira do Brasil. Em todo desfile de 07 de setembro estava
presente com sua faixa. Demonstrava seu amor por Campinas com sua presença nos
eventos importantes da cidade, aparecendo muitas vezes no Teatro Municipal e no
estádio Brinco de Ouro da Princesa, na década de 60, quando vestia a faixa de
miss bugre. Segundo relatos ainda, se fosse chamada de tostão, logo dizia
indignada um palavrão.
No dia 22 de abril de 1950, uma notícia do jornal Correio
Popular destacou “Desaparece da fisionomia da cidade uma de suas figuras
populares. A Gilda foi levada para o Hospital Franco da Rocha (Conhecido como "Hospital dos loucos"). Lá continuará
cumprindo o seu destino e continuará pensando que é Gilda”. Mas, ela voltou e continuou vivendo como Gilda.
Além de acreditar ser uma estrela de cinema e exibir suas
faixas, Gilda também afirmava ser amante do presidente Getúlio Vargas e noiva
do prefeito de Campinas Orestes Quércia, eleito em 1968. Quércia se solidarizou
com a condição de Gilda e com generosidade doou a ela uma casa popular, na Vila
Rica, para que pudesse morar. Foi o que informou os jornais campineiros da
época.
Ela dizia-se também viúva do cantor Francisco Alves, o
famoso Rei da Voz, o qual morreu de desastre automobilístico na Via Dutra, em
27 de setembro de 1952. Por isso, não gostava quando algum fã se referia aos
nomes de cantoras famosas da época, como Emilinha Borba e Ângela Maria, pois
adorava mesmo era Francisco Alves. Às vezes, xingava quem fazia tais
referências, mas outas vezes reagia docemente cantando canções de Maysa.
Também cantava canções como “I love you” e “Kiss me”, quando se sentia uma
estrela como a Gilda protagonizada por Rita Hayworth.
Gilda morreu em 1974, aos 74 anos de idade, depois de ter
sido internada no Hospital Mário Gatti.
Curiosidades sobre Gilda:
- A história de vida de Gilda foi muito apreciada e
inspirou a obra o artista plástico Egas Francisco, que desde sua infância, quando
a descobriu em uma banca de jornal, ficou fascinado e nunca mais deixou de
retratá-la.
- Augusto Sevá dirigiu um documentário sobre Gilda, que o
Museu de Imagem e Som de Campinas preserva junto de outros trabalhos, como Fala
Ó, documentário dirigido por Cristina Cavotto e roteirizado por Maurício
Squarisi, sobre a vida do popular Mané Fala Ó.
- Em 2001, durante o Segundo Encontro Internacional “Saber
Urbano e Linguagem”, com o acaso e definição “A vida na cidade”, promovido pelo
Laboratório de Estudos Urbanos da Unicamp, Gilda foi lembrada em uma
apresentação de Regina Polo Muller.
- Em 2014, uma exposição de bonecos feitos de papel
marchê que homenageava personagens da história de Campinas, durante a semana do
aniversário da cidade, trouxe a lembrança em forma de boneca da Gilda. O
trabalho foi realizado por crianças do Projeto Vivendo Campinas e a exposição
ocorreu na sede da ONG União Cristã Feminina (UCF), localizada na Rua Olívio
Manuel de Camargo, 291, no Jardim Santa Mônica.
Fontes:
http://correio.rac.com.br/_conteudo/2013/11/blogs/bau_de_historias/120975-fisionomias-da-cidade.html
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ResponderExcluirO Brasil é um país estranho que idolatra loucos, ladrões, assassinos e corruptos.
ResponderExcluirSe você for Lula, Lampião, Marighella ou fizer suas necessidades no meio da rua e ficar gritando por aí que você é mulher do presidente, você é um herói nacional.
Quem não viveu,não entendeu...
ExcluirUMA CIDADE É FEITA COM SUA POPULAÇÃO FEITA POR PESSOAS DE TODOS NIVES.NAO PODEMOS EXCCLUIR NINGUÉM.NÃO IMPORTA A SUA CLASSE SOCIAL.EU CONHECI A GILDA TINHA 16 ANOS NA EPOCA QUANDO EU FAZIA SERVIÇOS DE BANCO PRA EMPRESA PASSAVA QUASE TODO DIA ANDANDO PELA CIDADE SEMPRE VIA A GILDA TODA ENFITADA CAMINHANDO PELAS RUAS ATE TINHA RECEIO OU MEDO NÃO SEI EXPLICAR.O IMPORTANTE QUE FEZ PARTE DO CONHECIMENTO E DA HISTORIA. OBRIGADO PELA LEMBRANÇA...
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