domingo, 9 de setembro de 2018

GRANDES HOMENS DE CAMPINAS: José Pancetti




Giuseppe Gianinni Pancetti nasceu em Campinas, em 1902, onde viveu até os oito anos, quando seus pais se mudaram para a cidade de São Paulo. Era filho dos imigrantes italianos, Giovanni Battista Pancetti e Corinna Gianinni. Por causa das dificuldades financeiras da família, por decisão do pai, Pancetti voltou para a Itália, e viveu dos 11 aos 16 anos, em terras italianas, primeiramente em companhia do tio Casemiro, negociante de mármore, na região de Toscana. Depois, em Massa-Carrara, onde estudou no Clégio Salesiano, e em Pietra Santa, com os avós, por causa do envolvimento da Itália na Primeira Guerra Mundial.

 
 

Ele teve várias ocupações até ingressar na Marinha Mercante, em 1919. Antes de se tornar marinheiro, Pancetti foi aprendiz de marceneiro, trabalhou em uma fábrica de bicicletas e de material bélico. Como marinheiro, ele viajou por três meses pelo Mar Mediterrâneo.




Em fevereiro de 1920, José Pancetti voltou ao Brasil e passou a exercer diferentes ofícios na cidade de Santos. Ele trabalhou de operário têxtil, auxiliar de ourives, trabalhador na rede de esgotos e faxineiro de hotel.

Em 1921, em São Paulo, Pancetti trabalhou na Oficina Beppe, especializada em decoração de pintura de parede, como cartazista, pintor de parede e auxiliar do pintor Adolfo Fonzari (1880-1959).

Em 1922, no Rio de Janeiro, ele entrou na Marinha de Guerra, onde permaneceu até 1946. Na Marinha, ele ocupa o posto de segundo tenente 

Em 1925, servindo no encouraçado Minas Gerais, ele pintou suas primeiras obras. No ano seguinte, disposto a progredir na carreira, Pancetti integra o quadro de pintores dentro da “Companhia de Praticantes e Especialistas em Convés”.




Em 1933, participou do Núcleo Bernardelli, grupo formado por jovens que lutaram pela reformulação do ensino artístico na Escola de Belas Artes. Ele recebeu orientação de Manoel Santiago (1897-1987), Edson Mota (1910-1981), Rescália (1910-1986), e principalmente pelo artista polonês Bruno Lechowski (1887-1941). Por este, foi orientado em pintura em óleo.

Em 1935, ele casou-se com Anitta Caruso.

Na passagem pelo Núcleo Bernadelli, José Pancetti adquiriu técnica e amadurecimento artístico. Sua obra era composta por paisagens, retratos, auto-retratos, naturezas-mortas, e marinhas. As marinhas são as pinturas mais conhecidas . Incialmente elaboradas de forma analítica, em pinceladas lisas e batidas, e organizadas em planos geométricos, sem ondas, sem vento, tornam-se com o tempo, mais limpas, e, por fim, beiram a abstração, reduzidas à areia, à luz e ao mar.

 
 
 

O retrato torna-se uma constante em sua carreira. Muitas vezes, revelam a sensação de desalento, como ocorre na obra Menina Triste e Doente, de 1940, ou em Retrato de Lourdes. Nos auto-retratos, Pancetti mostrou sua admiração por Vicent Van Gogh (1853-1890) e Paul Gauguin (1848-1903). Representando-se frequentemente como trabalhador manual, ele recorda sua origem humilde.


 
 
Na década de 1940, ele pintou paisagens urbanas com tonalidades que davam um ar de grande melancolia. O Chão, uma obra de 1941 expressa esta ideia urbana melancólica, assim como Pátio da Rua Santana.

 
 

As marinhas foram a face mais conhecida de sua produção. Pancetti reflete nelas sua experiência de marinheiro e o amor pelos diversos recantos do litoral. Itanhaém, Mangaratiba, Cabo Frio e Arraial do Cabo. O artista realizou uma série de quadros de Arraial do Cabo, nos quais o olhar de espectador percorre as humildes casas de pescadores, a areia muito branca  e as canoas coloridas.

 
 
 

Em 1942, Pancetti mudou-se para Campos do Jordão, em busca de tratamento para a tuberculose que o afetava. Neste mesmo ano nasceu sua filha Nilma. Em 1945, ele mudou-se para São Jo]ão Del-Rei, ainda visando ao tratamento de sua saúde.

 
 
 
Em 1945 ocorreu sua primeira exposição individual com mais de 70 quadros.

Em 1941, José Pancetti ganhou o prêmio de viagem à Europa na Divisão Moderna do Salão Nacional de Belas Artes, e em 1948, recebeu uma medalha de ouro no mesmo salão. Em 1950, participou da Bienal de Veneza, e em 1951 da I Bienal de São Paulo.

Em 1950, ele fixa residência na Bahia. Sua obra de modifica. Ele pintou a cidade de Salvador e arredores nos anos 50: A Praia Itapoã, o Farol da Barra e a Lagoa do Abaeté. Esta última foi representada em muitos quadros, que têm como tema o contraste entre as águas escuras, a areia branca e os tecidos coloridos das lavadeiras. Na obra Farol da Barra, de 1954, Pancetti explora a consistência, a luminosidade e a cor dourada das areias.

 
 

Em 1952, é promovido a primeiro-tenente e nasceu seu filho Luis Carlos.

 

Em quadros do final da carreira, ele aproximou-se da abstração, como em Itapoã, de 1957, no qual a paisagem é concebida por meio de faixas de cores vibrantes e luminosas.

José Pancetti foi o exemplo de artista que iniciou seu trabalho nos conturbados anos 30. Sua obra de retratista carrega algumas das questões tangentes destes tempos, e suas marinhas  e paisagens terrestres atestam o programa nacionalista em voga, independentemente de o artista estar ou não a par destas questões da Modernidade.

 
 

Em Campinas, José Pancetti foi eternizado com o seu nome em uma avenida na Vila Proost de Souza e também no Museu de Arte Contemporânea da cidade.

“Parece que já vivi 500 anos. Esta noite recordei coisas da minha vida. Sentado perto da janela, olhei o mar, vi-me menino em Campinas, depois em São Paulo, Itália, adolescente, adulto, vi tudo, tudo. Sempre sofrimentos, sempre tristeza sem saber o que queria realmente. Depois, torno-me pintor da noite para o dia. Vi então desfilar como num imenso filme, todos os meus trabalhos, todos tristes... O Filme rodou lentamente.”

 
 

José Pancetti faleceu aos 56 anos, no Rio de Janeiro, de câncer de estômago no Hospital Central da Marinha. Foi enterrado no cemitério de São João Batista no bairro Botafogo. O poeta Augusto Frederico Schmidt proferiu uma oração fúnebre na despedida do grande pintor campineiro.

 

 

Fonte:





 

 ALEXANDRE CAMPANHOLA

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