terça-feira, 22 de junho de 2021

CAMPINAS SENTE SAUDADE: Casa Livro Azul

  

A Casa Livro Azul foi um empreendimento comercial fundado em Campinas no dia 14 de novembro de 1876, por Antônio Benedicto de Castro Mendes em sociedade com o primo Joaquim Roberto Alves.





No início era uma pequena loja com o nome de Ao Livro Azul dedicada à encadernação localizada na Rua Direita, atual Rua Barão de Jaguara, onde também se fabricava caixas de papelão para chapéus, que eram fornecidas para a firma Bierrenbach & Irmãos, além de outros tipos de caixas.

A compra da primeira impressora permitiu à impressão de cartões de visitas, e com a ampliação do negócio, logo também passou a contar com uma pequena papelaria, com estoque de caixas e artigos de escritórios, que atendiam os pequenos estabelecimentos que surgiam na época. 

Os primeiros clientes eram comerciantes e industriais que precisavam de livros de caixa para registro de compra e venda, blocos de notas fiscais, etc.



A Casa Livro Azul manteve-se em crescimento nos anos seguintes diversificando seus produtos. O empreendimento passou a comercializar produtos vindos do Rio de Janeiro e da Europa, e em 1888, começou a vender pianos importados da Alemanha.

Um dos sócios, Castro Mendes, era um homem culto que muito contribui para o crescimento da loja. Com grande apreço pelas Artes e Letras, ele exibia em sua loja uma infinidade de quadros e obras de artistas reconhecidos. Tamanha sofisticação, atraia personalidades famosas da época como o maestro Carlos Gomes. 




A Casa Livro Azul foi o primeiro estabelecimento comercial de Campinas a ter luz elétrica


A loja mudou do nome quando Castro Mendes associou-se ao irmão João Baptista de Castro Ferraz, passando a se chamar Castro Mendes & Irmão. Tempos depois, com o fim da sociedade surgiu em Campinas uma concorrente da então Ao Livro Azul, a loja Casa Mascotte, fundada pelo irmão de Castro de Mendes





Em 1900, a Casa Livro Azul era um negócio sólido no ramo da tipografia, papelaria, comércio de pianos e artigos importados, como brinquedos, louças finas e objetos para a casa. Ao final de cada ano, pelo Natal, Ano Bom e Reis, promovia exposições com bonecos articulados, que atraíam uma verdadeira multidão para suas vitrines.

Mas, Castro Mendes sabia que os produtos vendidos em São Paulo eram de melhor qualidade e preço, e por isso, viajou à Europa, e trouxe de Leipzig, na Alemanha, conhecida como a cidade do livro, novas tecnologias e meios de fabricação de livros em branco. Visitou também centros de obras de arte e comprou mercadorias em bronze, metal fino, mármores, entre outros.

 



Ainda em 1903, Castro Mendes convidou o professor Coelho Netto para fundar o Club Livro Azul, um local onde os artistas e intelectuais se reuniam para concertos, palestras, cantos e declamações. Surgia assim um ambiente cultural onde aconteciam os chamados Concertinhos do Livro Azul. Nesta ocasião, Coelho Netto escreveu a peça Pastoral, que foi encenada no Teatro São Carlos, por insistência da Castro Mendes, com a participação dos membros do Concertinho e que teve uma repercussão muito grande na cidade.



Entre 1906 e 1908, A Casa Livro Azul teve seu momento de apogeu comercial, a solicitação de serviços tipográficos era enorme, e devido à alta demanda, muitas vezes seu horário de funcionamento se estendia, quando o horário habitual de fechamento do comércio de Campinas era às 21 horas.

 



Em 1934, Cleso de Castro Mendes, filho de Castro Mendes, começou a gerenciar o negócio tornado-se sócio. Com isso, o empreendimento mudou de nome e passou a se chamar Castro Mendes & Filho Ltda.




A Casa Livro Azul teve sua ascensão em um época em que Campinas crescia e se desenvolvia em função da produção cafeeira e do surgimento de comércios e indústrias.

 Consolidada em seu ramo de atuação, o empreendimento foi símbolo daquele tempo onde uma certa camada da classe média e da aristocracia voltava-se para as artes e para o consumo  de certos objetos e padrões estrangeiros. 



Além de atender às necessidades de uma cidade em modernização, a uma clientela diversificada, a diversos profissionais, estudantes, intelectuais, a Casa Livro Azul também teve importante papel para o entretenimento da cidade, pois concebeu importantes espaços como o Club Livro Azul, livraria e o espaço cinematográfico, fruto da iniciativa de Castro Mendes que trouxe da Europa uma máquina de rodar filmes com algumas fitas, e passou a exibi-las em um sobrado vizinho à sua loja.




A Casa Livro Azul existiu por 82 anos. Durante a Segunda Guerra Mundial passou por dificuldades devido a problemas com a importação de matéria-prima e produtos, à perda de importantes clientes importantes, como a Companha Mogiana de Estradas de Ferro, e o surgimento de muitos concorrentes, mas ainda assim, existiu por mais 12 anos, encerrando suas atividades em 1958.

 

 

Fontes:

https://www.unicamp.br/cmu/sarao/revista02/sarao_re_resenha_foto_02.htm

https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fpro-memoria-de-campinas-sp.blogspot.com%2F2010%2F04%2Fcuriosidades-casa-mascotte-e-radialista.html&psig=AOvVaw1bm6chVoDlSzZpwhCw45Lv&ust=1624499515272000&source=images&cd=vfe&ved=0CAgQjhxqFwoTCNCT0b7SrPECFQAAAAAdAAAAABAD

https://correio.rac.com.br/_conteudo/2020/11/campinas_e_rmc/1031666-casa-livro-azul-marco-do-seculo-19.html#

http://www.livroehistoriaeditorial.pro.br/pdf/marialygia.pdf



TEXTO: ALEXANDRE CAMPANHOLA


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