segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

🗄️📂 ARQUIVO ESPECIAL: A chacina da Porteira do Capivara


 Campinas, 16 de julho de 1917, segunda-feira. Uma greve de operários tem consequências trágicas que deixaram manchas de tristeza na história de Campinas.

No contexto da situação estava a primeira greve geral de trabalhadores, que se espalhou pelas principais cidades do pais. A greve exigia redução da jornada de trabalho, que chegava a 14 horas diárias, aumento de 25% nos salários e restrição ao trabalho de crianças e mulheres em condições insalubres.

Naquele dia 16 de julho, por volta de meio-dia, os operários das oficinas da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro entraram em greve. Os operários de outras empresas também aderiram, como os operários da Companhia MacHardy Manufatureira.

O movimento também teve a participação dos operários da Companhia de Tração e Força, da Cervejaria Colúmbia, da serraria Avelino do Nascimento Souza, Reis & Cia, da Casa Confiança, da fundição Sim, Chechia, das Casas A. Pierro & Irmão, Manfredo Ítalo & Filho,  José Tarcon, e outros estabelecimentos. 

Estes operários grevistas conduziam uma bandeira vermelha em passeata pelas ruas da cidade, fechando os comércios, e liderados pelo anarquista italiano Ângelo Soave e por Armando Gomes, a principal liderança do movimento negro naquela época.



No dia da manifestação, Campinas estava sem polícia, pois o contingente estava na capital do estado. Às 15 horas, um trem chegou à cidade e trouxe 200 soldados.

O líder do movimento, Ângelo Soave, foi preso e seria levado para São Paulo. A fim de impedir isso, os grevistas contrataram o advogado, Pedro de Magalhães, cujo nome está eternizado hoje em uma rua do Cambuí, para negociar a liberação de Ângelo, mas não houve êxito.


Os operários dirigiram-se, então, para a Porteira do Capivara, com o intuito de impedir a saída do trem que levaria Ângelo Soave para a capital. Segundo a versão dos policiais, os operários arrancaram trilhos e colocaram paralelepípedos nas linhas de trem. 

A Porteira do Capivara era uma barreira que existiu na saída da antiga estação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, na altura do atual Viaduto Vicente Cury, e que ligava a Rua Cônego Cipião, na esquina com a Rua Visconde de Rio Branco à atual Avenida João Jorge. Atravessando a porteira, chegava-se à Vila Industrial, através da antiga Rua João Jorge. 

Seu apelido, capivara, era em virtude do antigo guarda-porteira que trabalhou no local. Ela existiu até a inauguração do viaduto antigo em 21 de outubro de 1929. Este viaduto foi demolido na década de 1960, e foi substituído pelo atual Viaduto Miguel Vicente Cury.


Os policiais haviam acabado de chegar a Campinas em um trem especial, que parou nos trilhos do bairro Ponte Preta, para o desembarque. Eles seguiram pelos trilhos e agiram sob o comando do capitão José Dias dos Santos.

Armados de fuzis e aproximando-se da porteira sorrateiramente, os policiais iniciaram sem aviso prévio um brutal tiroteio contra os grevistas desarmados, sendo que a maioria foi atingida nas costas. O desfecho foi de três mortes e 16 feridos. 


A ação policial causou a morte de Antônio Rodrigues Margotto e Tito Ferreira de Carvalho, da Companhia MacHardy Hardy Manufatureira, e Pedro Alves, de apenas 18 anos de idade, operário da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro.

Na Câmara Municipal de Campinas, vereadores  como Raphael Duarte, Omar Simões Magro e Álvaro Ribeiro repudiaram a chacina promovida pelos policiais, e orquestra pelo poder estadual. Uma violência que foi destaque nos principais jornais do país.

No Cemitério da Saudade existe hoje, na quadra 32, perpétuas número 40 e 41, os mausoléus de dois grevistas mortos na Chacina da Porteira do Capivara.

Os mausoléus foram projetados e construídos pelo artesão Antônio Coluccini, da Marmoraria Campineira, com recursos angariados pela Comissão de Operários junto aos trabalhadores das indústrias locais. São considerados os primeiros do país em memória a trabalhadores em manifestação.


Neles estão sepultados Antônio Rodrigues Magotto e Tito Ferreira de Carvalho, ambos falecidos a 16 de julho de 1917. O mausoléu de  Pedro Alves, falecido a 18 de julho de 1917, já não preserva as características da época em que foram construídos.


✍️ ALEXANDRE CAMPANHOLA 

Campinas, meu amor 


Fonte:


🔍 Jornal O Combate, a edição de 17 de julho de 1917.


🔍 https://ihggcampinas.org/.../a-chacina-dos-operarios-na.../


🔍 Página Campinas de Antigamente


🔍📸 https://promemorianegradecampinas.blogspot.com/.../massac...


📸 Blog Pró-Memória de Campinas 


📸 Pesquisa de Jane Durlin 


Livro: Falsa democracia, a revolta de São Paulo em 1924. Autor: Álvaro Ribeiro 

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