Sim. Campinas já teve a sua Torre Eiffel e no mesmo ano em que a original foi inaugurada.
A Torre Eiffel francesa foi inaugurada no dia 31 de março de 1889, como uma peça central da Exposição Universal do mesmo ano, uma feira mundial para celebrar o centenário da Revolução Francesa. Em Campinas, nada havia para comemorar naquele ano.
O verão de 1889 foi trágico e assombroso para a população campineira. Uma epidemia de febra amarela assolou a cidade. Várias pessoas adoeceram aos poucos e o número aumentou rapidamente. Às primeiras vítimas fatais, logo somaram-se centenas.
Nos meses de abril e maio daquele ano, chegaram a morrer por dia de 25 a 40 pessoas. No dia 18 de abril, por exemplo, morreram 58 pessoas. Entre fevereiro e junho de 1889, mais de 400 pessoas faleceram na cidade e milhares de habitantes fugiram (cerca de três quartos da população).
Para se ter uma ideia da gravidade da epidemia, sabe-se que em 1871, Campinas possuía cerca de 10 mil habitantes na área urbana e 23 mil na área rural. Em 1889, contabilizou-se de 3 a 5 mil moradores. Dos 27 médicos que clinicavam, apenas 3 permaneceram na cidade durante o surto da doença.
Presume-se que das 3 mil pessoas que teriam permanecido na cidade, 2 mil teriam sido atingidas pela febre e, destas, 1200 teriam morrido. Os principais atingidos foram os imigrantes italianos e portugueses.
Quando a epidemia foi controlada em julho daquele ano, havia muitas crianças órfãs que foram abrigadas no prédio do Asilo de Órfãs, que existia no hospital da Santa Casa de Misericórdia de Campinas.
Em 29 de setembro de 1889 teve início em Campinas uma grande quermesse, que foi realizada nos jardins da atual Praça Imprensa Fluminense, o Centro de Convivência, em prol das obras do Asilo de Órfãs.
O evento que teve início das 4 horas da tarde e foi organizado por uma comissão composta por destacados cidadãos da sociedade campineira: Augusto César do Nascimento (Presidente da Comissão), João Duque (tesoureiro, da Casa Notre Dame de Paris), Dr. Alfredo Pujol (secretário), Dr. Tomás Alves, Dr. Vieira Bueno, Luis de Pádua Machado, Leopoldo Amaral, e os diretores dos três jornais da cidade (Diário de Campinas, Correio de Campinas e Gazeta de Campinas).
As damas da sociedade campineira, promotoras da quermesse, fizeram o trabalho de “sensibilizar as almas” caridosas em prol do Asilo de Órfãs. Havia no jardim 16 pavilhões, imprensa, barraquinhas que vendiam chops, cognac, cafés, frutas, flores, jornais, bibelôs, prendas, etc. As barraquinhas eram muito elegantes, todas pintadas e decoradas com capricho com colchas e panos de cores variadas.
Havia a barraca da Imprensa, toda forrada de jornais por dentro e por fora, e com caixas de tipos para a impressão do Jornal da Kermesse; havia, também, barracas dedicadas às nações de onde Campinas tinha imigrantes, como Portugal, Alemanha, Itália...
Todas as sociedades de música estavam presentes. À noite, o jardim foi iluminado a gás, luz elétrica e lanternas de papel.
Dentre as prendas e donativos para a quermesse, que eram em grande número e provenientes das mais distintas origens, destacaram-se as peças de porcelana européia ofertadas pela Princesa Isabel e pelo Conde D’Eu. As peças, duas jarras, foram arrematadas pelo Major Antonio Luis Rodrigues e Albino José Barbosa de Oliveira Junior, que despenderam pelas peças 551 e 120 mil réis, respectivamente.
Também, segundo o jornal Diário de Comércio, um dos itens vendidos na quermesse foi o cachimbo do Sr. Mallefatti, arquiteto da Torre Eiffel. Aquela de Paris, teve como arquitetos Maurice Koechlin e Émile Nouguier. Mas, naquela quermesse de 1889, Campinas também teve uma Torre Eiffel.
🗼 Um dos atrativos da quermesse foi uma réplica da Torre Eiffel de Paris. A torre de Campinas foi construída com madeira, seis meses após a inauguração da original. A torre possuía vinte metros de altura. No seu topo havia um gracioso lanternim, que fulgurava à noite um grande foco de luz elétrica.
Certamente, a novidade atraiu grande público que queria estar diante da réplica da estrutura mais alta naquela época feita pela humanidade.
Também foi construído para o evento e exposto naquela quermesse o Chalet Lidgerwood, sendo a fábrica uma das mais importantes da cidade naquela época.
O evento, encerrado em 13 de outubro de 1889, auferiu um produto líquido de 27:057$810, com o qual foi possível finalizar as obras para que o Asilo de órfãs pudesse funcionar como internato.
✍️ ALEXANDRE CAMPANHOLA
Campinas, meu amor
Fonte:
🔍 https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Torre_Eiffel
🔍 Licurgo do Santos Filho, citado em Revista do Instituto Adolfo Lutz
🔍 https://museudaimigracao.org.br/.../hospedaria-em...
🔍 A febre amarela em Campinas no Século XIX - Profa. Dra. Cristina Brandt Friedrich Martin Gurgel
Docente da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e membro do
Grupo de Estudos História das Ciências da Saúde da FCM, Unicamp
🔍 CARIDADE E PODER: A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Campinas
(1871-1889)
Leila Alves Rocha
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Departamento de Política e
História Econômica do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, para a
obtenção do título de mestre.
🔍 https://www.facebook.com/share/p/jvLkMGixV9UG2Abv/?mibextid=oFDknk
🔍 Jornal "Diário de Notícias" do Rio de Janeiro, edição do dia 01/10/1889
🔍 Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, edição do dia 02/10/1889
📸 Biblioteca Digital Luso-Brasileira
Nenhum comentário:
Postar um comentário